terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Os tigres cravaram as garras no horizonte


É Hoje, Quarta-feira dia 22, que estarei relançando meu livro "Os tigres cravaram as garras no horizonte" na despedida do ano de 2010 realizada no Cep 20.000 pelo Chacal. Venha comemorar com a gente, que tudo surrealize no ano de 2011!! Tudo isso hoje a partir das 20 hrs no Teatro Sérgio Porto do Humaitá. Terão lá também Ana Salek relançando seu livro "Dezembros", Domingos Guimaraens com sua exposição "Risco", e muito mais! Venham com fome de Dionísio!

domingo, 12 de dezembro de 2010

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Lançamento dos livros "Dezembro" (de Ana Salek) e "Os tigres cravaram as garras no horizonte" (de Augusto de Guimaraens Cavalcanti)













Convido amigos, inimigos, conhecidos e desconhecidos para o lançamento dos livros "Dezembro" (de Ana Salek) e "Os tigres cravaram as garras no horizonte" (de Augusto de Guimaraens Cavalcanti). Para os desconhecidos....serão compradas + de 60 garrafas de malbec, o que é sempre 1 boa notícia para bacantes e dionísios de plantão, rs. Os tigres vão cravar as garras no horizonte em 2010!! Local: Astrobar Planetário Gávea (Dia 01 de Dezembro, quarta-feira).

Lançamento dos livros "Dezembro" (de Ana Salek) e "Os tigres cravaram as garras no horizonte" (de Augusto de Guimaraens Cavalcanti). Quarta-feira, 1 de dezembro às 19:00 - 31 de dezembro às 23:30

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

sexta-feira, 16 de julho de 2010

segunda-feira, 5 de julho de 2010

R.P








Estes últimos dias não têm sido fáceis. Como diria Roberto Piva, o africano não têm uma cultura da "emoção". É da "comoção" mesmo. É mais forte ainda. "Tragédia não tem solução. Drama tem." Pois é, tudo na África tem que ser mais trágico e comovido. No dia 02 de julho o Brasil caiu para a laranja mecânica e maquinal na África, e no dia 03 de julho “morreu” o poeta Roberto Piva; o riso do galo não anunciou o dia. A Holanda certa vez tentou criar o "futebol total" com o impensado carrossel, a instintiva “obra de arte total”. Mas, tudo que vimos em solo africano foi um canarinho desconjuntado e acreditando na força de seus mitos ancestrais. Mas, o que dizer nos momentos irreversíveis? Não são todos os instantes irreversíveis, esvoaçantes como formas que transbordam oceanos com seus pássaros a nos bicar o fígado? Mulheres com penas se despem flutuantes para o outro lado dos espelhos, quando os espelhos dormem. Me lembro do texto que Octavio Paz escreveu sobre a morte de André Breton. Nele Paz proferia: "Não é a primeira vez que Breton morre. Ele o soube melhor que ninguém: cada um de seus livros centrais é a história de uma ressurreição. Não sabemos o que seja realmente morrer, exceto que é o fim do eu – o fim do cárcere. Breton rompeu várias vezes este cárcere, o alargou e o negou em face ao tempo e, por um instante sem medida, coincidiu com o outro tempo. Esta experiência, núcleo de sua vida e de seu pensamento, é invulnerável e intocável: está para além do tempo, para além da morte – para além de nós mesmos. Saber-lo me reconcilia com sua morte de agora e com todo morrer." Por isso, podemos dizer que Roberto Piva não morreu, ele o sabe melhor do ninguém ressurgir tal qual um pajé da palavra. Para a magia cotidiana de R.P, "Cristo era Dionísio de ressaca." Assim Piva se auto-definia: "Não sou xamã de cemitério. Eu sou um curandeiro das palavras." Anjos eletrificados nos surgirão através dos gritos de rock saído das cavernas do ser. Para R.P, Jim Morrison representava "a própria imagem do apocalipse", como narra o poeta paulistano: "Quando me disseram que ele havia morrido eu senti que estava faltando um dragão em algum lugar do universo. Ele representou para mim uma grande parte da minha vida: a poesia do Whitman, o cafajeste bebedor de cerveja, as portas da percepção e uma visão angélica, e ao mesmo tempo selvagem, do amor. No fundo todos nós somos jim-morrisons amordaçados." Sem objeções, R.P viveu certos instantes, viu certas evidências que são a negação do tempo e das verdades não antes codificadas. Este é o seu ano, 2010 (o ano do Tigre). No fundo todos nós somos jim-morrisons amordaçados. Se é que agora não voltaremos a ver-lo, mais solúvel do que nunca estará Piva, iluminado pelo Jardim da Luz, esvoaçante como todo xamã. Dessa maneira, nos descreve R.P: "Eu vivo apenas no hoje, portanto vivo eternamente." Toda morte, uma contradição.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Amor Bulgária (por 7A)

A primeira vez que ouvi falar na Bulgária, eu não tinha a mínima noção que ela não existia. Foi na Copa do Mundo de 1994, a partir de Histo Stoichkov (o melhor jogador búlgaro da história), que me chegaram as primeiras notícias daquele insipiente país. Me lembro bem que o búlgaro comemorava cada gol com um grito lançado ao ar clamando por sua possível, mas incomprovada existência. Aliás nessa auspiciosa e abstrata seleção, não só Stoichkov tinha atos imprevisíveis, como o pirotécnico Letchkov também, seguido por Balakov, Ivanov e Penev. Com a camisa 8, Stoitchkov era o responsável por comandar um time que tinha talento, embora parasse tantas vezes nos seus próprios traumas. Mas, convenhamos, ninguém apostava um tostão furado nos búlgaros. Até 1994, nunca tinham vencido sequer um jogo em Copas do Mundo – isto porque já haviam participado de cinco delas; eram 16 atuações, com constrangedores seis empates e dez derrotas. Se a Bulgária existisse, consequentemente deveriam existir os búlgaros. Definitivamente 1994 foi um ano mágico e inesquecível para toda a cosmogonia búlgara e para sua bulgarosofia, como não poderia deixar de ser. Após a classificação heróica nas Eliminatórias, quando o time virou sobre a França e a eliminou no último minuto, em plena Paris; a tão sonhada primeira vitória viria em solo americano. Com um estrondoso 4 a 0 sobre o panteão decadente da Grécia, a maldição búlgara estava prestes a ser desfigurada, dizem que sob aplausos esfuziantes do escritor Campos de Carvalho.

O grande trauma búlgaro é ter que desafiar a lógica sempre que se quer vir à tona e virar o mundo de pernas para o ar. Como se sabe tais inversões sistêmicas não acontecem todo dia, e o esquadrão búlgaro, por exemplo, nunca mais conseguiu vencer em outra Copa do Mundo. Preferiu se recolher a sua tão estrondosa invisibilidade. Invisibilidade esta que vem assolando milhares de logicistas e bacharéis do bom senso ao redor do globo. Enquanto isso, em Sófia, Stoichkov continua exibindo intermitentemente seus passes de mágica como tantos outros búlgarologos fizeram no passado. Esta é a insofismável e ululante seleção base búlgara que clarificou o estádio nacional Vasil Levski em 1992-1996: 4-3-3. “Mihailov; Tzvetanov, Ivanov, Hubchev e Kiriakov; Yankov, Balakov e Letchkov; Stoichkov, Kostadinov e L. Penev.”

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Amor México (por 7A)
















Infelizmente os aztecas se foram. Logo eles, mesoamericanos florescidos no planeta África. Pois é, nem o gol litúrgico de Hernandez pôde dar um sopro de esperança ao povo das ilhas artificiais. Sim, o jogador Blanco passou em brancas nuvens e o México a partir de agora seguirá as instruções dos seus deuses, voltando para casa tal qual uma águia pousando em um cacto. A serpente foi devorada sob os prantos de Roberto Gómez Bolaños, não o seu simulacro mal formulado pelo escritor chileno Roberto Bolaño, mas sim o Shakespeare daquele inconfundível país. Logo logo a Wikipédia em esperanto anunciará: Os corações vivos foram arrancados e levantados aos céus enquanto o sangue escorria sobre todos os seus degraus. Tudo foi telepatipatéticamente televisionado pela TV Azteca. Assim, em meio à romaria de tripés e lentes, El Chavo se despe e se despede tal qual o filósofo Diógenes em seu barril. É inegável que Chespirito unificou as Américas mais até do que Simón Bolívar, Colombo ou qualquer MERCOSUL de araque, me sussurra Sobrenatural de Almeida. Segundo os nossos amigos mexicanos, os astros e o sol precisam de suor e lágrimas humanas para nascerem todos os dias; aqui está! Esqueçam os clichês do futebol.

domingo, 27 de junho de 2010

Piscando com os punhos (poemas de Billy Corgan traduzidos por Augusto Guimaraens Cavalcanti). Do livro Blinking with fists (2004)

Pense nos pássaros em voo e você irá começar a se aproximar /Como as faces veem da escuridão familiar /Para cumprimentá-lo novamente / Eles arrancam as cordas e cantam os refrões que eu conheço tão bem, e mantenho tão perto. Ao longo dos suaves rios e verdes vales até chegarmos à beira do vasto oceano / O maior mar que se pode imaginar e mais/ Levante sua mão e deixe os pássaros voarem com essa música doce / Velozes nós voamos por sobre as águas /Cada vez mais rápidos até aclararmos, e nossas palavras se iluminarem, e as memórias das coisas perdidas se clarificarem também / O sol alça voo / Imagine isso do ponto de vista do sol / Essas aves e o que se move à velocidade da luz sobre o azul / Bem, se você fosse o sol, iria rir muito! /Finalmente, depois de uma viagem tão momentosa /Você desacelera em uma ilha deserta, exuberante como a vida /E em sua terra estéril você encontrará o peito de mar de um baú usado /Polido pelos anos de grosseira manipulação/ Abra esta caixa e você irá encontrar no interior /Uma única cavidade e a poesia do meu coração / Arrastando esta caixa de mar ao redor da curva /Através da areia em uma selva densa, com flores e sombras / Nós tomamos o caminho esquecido até a encosta /Até à direção do sol a sorrir /Recolhendo sua sabedoria, e sua dádiva /Passado o fantasma que sussurra as relíquias de um outro passado / Escalamos para o topo / Porque o tempo não vai ficar parado por nós / Mas ele irá fingir de vez em quando / E aqui, esquecidos, somos só você, eu / Um peito de mar, segurando uma única noite dos namorados e a poesia dos nossos corações / Uma única lâmpada de luz nesta sala/ É escuro aqui o tempo todo / Se o teto havia capturado apenas os meus sonhos e pesadelos semelhantes, / Que histórias poderia mostrar / Ela está aqui, a única que eu amo, desejo, concebo, resgato, tudo para a própria tristeza do meu coração/ Estou perdido nesta sala, mas este é o lugar onde os corações são escritos / A vista do meu maior pensamento e infeliz canção / Não há pássaros aqui para alçar vôo / Nenhum oceano para sobrevoar, nenhuma ilha para chegar / Nenhum sol para me surpreender chorando /Este é o dom do esquecimento e sua opaca dança / Revelando agora a poesia do meu próprio peito / a sua tristeza e seu desejo sem nome que uma vez chamei de felicidade / Despojado de seu título e dopado para mostra / As lâmpadas bailam, as crianças cantam/ O galo cacareja e eu procuro dormir / Em algum lugar do passado as cicatrizes, os carros vazios e os bares intermináveis cheios de lembranças / Eu quero subir a partir deste buraco / E traçar uma fuga eu mesmo por cima das rochas abaixo / Porque um pulo necessita de intenção / E a intenção exige desejo / Para registrar desejo neste órgão chamado necessidade /Você precisa de mim? /Então me empurre mais, meu peito e meu mar / As aves vão me seguir / Refaça os passos, até ao limite máximo / Volte com a lâmpada, com os fios elétricos / Eletrizados bem para fora de Manhattan /Saindo por um outro lado / Para a direção de uma criança, de um sonho /Um peito rabiscado com um x, e que a verdade seja dita com raiva/ Revelando agora a poesia do meu coração / E as copas que pintam nos baralhos / Os desenhos das molduras / E sua gaiola real, eu

Um poema, se quiser: Ondas suaves raiam fora do alcance Tudo que eu respiro é meu Meu nome é somente uma casca a ser retirada lentamente como a pele das questões formais Lentamente do meu sexo eu embaralho os sindicatos de oferta As vozes silenciadas estão aqui, mas eles já estão saciados pela espera total por um tropeço Isso certamente deve vir “neste momento”, alguém declara em voz alta (na praça anônima) “desta vez não haverá nenhum tropeço” E a multidão, em uníssono entra descontroladamente em erupção, “Enquanto eu durmo eles vêm em pares para tapar minha cabeça e me ensinar aquele verso antigo que tento lhes dizer por toda minha vida redundante Ao colocar o dedo no meu templo para mostrar sabendo Com hematomas e cicatrizes Eu estou piscando com meus punhos As linhas do coro se alinham para cantar Uma respiração profunda, pronta para começar Tudo que eu respiro é meu Um bebê chorando quebra o silêncio Segue o riso constrangedor, a fim de sinalizar a " ordem divina", diz alguém caindo das chaminés, através das veias, membros são jogados para fora das obras desenhadas na sujeira, as figuras são retratadas em um impressionante ato de repouso pelos seus pulsos que ainda estão piscando

terça-feira, 15 de junho de 2010

sexta-feira, 11 de junho de 2010

gasolina

- Lá no cinema ao ar livre

Eu venho, mãe, de mirar

Um mar falso e verdadeiro

Que é o mar e não é o mar.

-Pois o cinema ao ar livre,

Filho, nunca voltarás.

Porque o mar no cinema

Não é o mar e é o mar. (Verão – Pedro Salinas)[1]

Sempre desconfiei que a verdadeira profundidade

Estivesse na superfície

Das coisas.
Walt Whitman bem nos ensinou que

Seja de treva ou de luz,

Todo momento é um milagre.

A montagem não explica a imagem,

Poetas não explicam o sussurro,

O sussurro não explica o acaso.

Mas seria a poesia, cinema em estado bruto?

O cinema explode ao ar livre seus aeroportos de carne.

O filme detona sua tela de raro oceano,

Seu mar cínico e adequado.

Mar tão aparente quanto irreal,

Mar sem margem,

Desterrado mar,

Noturno como nenhum cinema ao ar livre.

E eu não me engano neste incêndio,
And I’m only happy when it rains.



[1] Tradução de Alphonsus Guimaraens Filho, no livro Poetas de outras terras (traduções de Alphonsus de Guimaraens Filho), Edições Laranjeiras, 2005.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Interpretando o AmorAmerica (livro dos Sete Novos)

Já diria Pablo Neruda em seu poema Amor América que antes dos rios arteriais veio o grande sonho púrpuro chamado América. Henry Miller já dizia que os livros que melhor compreenderam os Estados Unidos foram feitos por escritores estrangeiros. De fato, Franz Kafka, Tocqueville e Maiakóvski possuem relatos definitivos, cada um à sua maneira. Por isso os três Sete Novos se apropriaram do poema-slogan amor-humor de Oswald, e juntaram as highways siderais de Jean Baudrillard e os outdoors mitológicos de Agrippino de Paula para construir o anti-livro AmorAmerica. Se Allen Ginsberg decretou The Fall of America em 1971, nós já pensamos um pouco diferente.

Estamos mais perto dos Estados Unidos (simulacro da França) do que imaginamos. Não, não só pelos seus mitos que deglutimos desde crianças, hipnotizadas pelos quebra-cabeças do cinema e da TV, mas pelo nosso horror à ambigüidade. Sim, somos o país mais positivista do mundo. Não, não é só pelo lema de nossa bandeira; (embora seja estranho tirar o amor do “ordem e progresso” como fizeram nossos republicanos dos Estados Unidos do Brasil); mas sim as nossas obsessões racionalistas em holofotes iluministas; quase nenhuma cota de sombra permitida.

Tudo que um super-herói americano queria era ser grego. Ou alguém nega que mesmo os protestantes entram em transe? Marthin Luther King entrou, tantas e tantas vezes, assim como Jim Hendrix de lá nunca saiu. Devemos à América o momento mais bonito da humanidade, a chegada do homem na Lua. Como se Cortez, Vespúcio, Américo ou Colombo filmassem tudo, não havia nada ali, só as crateras, crateras, crateras. Mesmo assim, a lua dos românticos virou a lua dos astronautas. O Amor América é uma esperança; um amor não correspondido da colônia pela metrópole. Assim, como a nação protestante da América não possui santos, nós emprestamos os nossos para eles.

“Os americanos só acreditam nos slogans”, me disse o Domingos certa vez. Penso assim em imagens tão ácidas como os irmãos Metralha recepcionando os turistas na Disney em vez do rato decadente e imundo Mickey. Sou aqui pela vertigem de outdoors líricos em que se vendam anúncios que façam as pessoas se emocionarem. Sou pelos Estados Unidos da Vertigem. Certa vez Jorge Mautner me disse que foram os jesuítas que criaram o samba, e que o Padre Antônio Vieira foi o primeiro tropicalista da história. Até hoje rumino sobre isso, um dia chego lá. Esperamos pelo dia em que Flash Gordon nos faça mais sentido do que já faz. Because we have visions instead of televisions.

Gosto de imaginar um “Esperando Godot” encenado por Sylvester Stalonne como Pozzo e Arnold Schawzneger como Lucky. Fico imaginando se tal peça seria possível, já que no site oficial de Stalonne está escrito que na Escola de Arte Dramáticas de Miami, a grande influência de Sylvester era Beckett, achei isso um milagre auspicioso. Qual seria a influência de Samuel no grande monstro Rambo a se criar? Talvez a cidade do Kansas seja tão cosmopolita como qualquer lugar do mundo. Quem garante que as Kansas Hell Fighters não possam ser tão existencialistas quanto as francesas do Café Mondrian. E por que não ?

Para mim uma cidade tão carente que suplica romanticamente amor só pode ser uma cidade sonhada. Miami, fico pensando nela, somente nela, somente nela, como se possível fosse estar lá eternamente como em um carnaval ou em um desfile em celebração à existência. Algo como o lindo vídeo-clipe em que Bruce Springsteen caminha sobre ruas chuvosas de Philadelphia. Estive em Filadélfia e Miami quando criança, mas infelizmente não conheci seus aspectos mágicos. Devo ao cinema isso e muitas coisas mais. No final da canção Bruce recita “aint no angel gonna greet me”, é isso aí; nenhum anjo vai nos parabenizar por nada. Deixemos os anjos para Wim Wenders. Na América os anjos são reais, estão no submundo até e nos dão bom-dia.

Muito me interessa a imagem lisérgica da casa de Andy Wahrol com seus móveis preenchidos com gás de hélio, flutuando quando o artista queria desocupar seus espaços, e amarrados no chão queria preencher sua sala. Tentei misturar essa imagem em meus textos com o questionamento do livro apocalíptico “The Fall of America”, de Allen Ginsberg, em que o poeta quer defender a profecia feita por William Blake de que a América (Iracema de ressaca) se auto-implodiria em dois séculos (imagem esta quase de ficção científica à la Hollywood).

Não estaria Blake descrevendo Kripton, planeta que explode? Mas se ao menos a grandiloqüência do Superman salvando o mundo pudesse ser aprendida por Macunaíma........ Aliás, nos filmes de Superman o planeta terra é sempre descrito por Planeta Houston, não é demais? E sem falar no Planeta Hollywood, lanchonete que serve mundialmente hambúrgueres e sonhos, assim como as finais dos campeonatos americanos que são sempre descritas como World Series. Samplers, samplers. Procuro imaginar como seria se José Agrippino de Paula tentasse entender o Kentucky......Qual seria a profecia de Blake sobre este misterioso Estado? Como Kieerkegard descreveria o tédio norte-americano daquelas cidades pequenas com suas casas todas aparentemente iguais? Como seria o carnaval em Kentucky? Bom, New Orleans possui o Mardi-Gras, que é um carnaval europeu, mas o Kentucky não, lá não há inversão nenhuma. O que Roberto Da Matta escreveria sobre um possível carnaval no Kentucky em que as mulheres gordas de frango frito começassem a entrar em transe devido a algum erro na produção do Kentucky Fried Chicken?

Através do nome “Deusa EUÁ” divido o espanto com o leitor ao descobrir que o nome africano para a deusa da sedução é realmente “Deusa EUÁ”. Em comunhão a “Deusa EUÁ”, imagino como seria se João Cabral usasse um parangolé e parasse para escutar música clássica. Se é para África dominar o mundo que seja pelo bom propósito de Michael Jackson cantando o fim da segregação racial em “Black or White”, ou pela lírica pujante dos nova-iorquinos do The Last Poets. No hip-hop o que me incomoda são as ausências de metáforas e ambigüidades, muito diferente do rap proveniente da sigla rythm and poetry (poesia ritmada).

Sou pela delicadeza dos índios, sou pelo símbolo do real, sou pela magia no cinema e pelo cinema na magia, sou pelas noites americanas. Falsas noites são criadas em estúdios durante o dia. Não seria essa a ambigüidade mágica que nos interessa? Sou pelo ritmo na poesia, e não por essa dilaceração amorfa pop, em que mal seus heróis morrem de overdose, logo são reciclados por outros. A banana de Andy Wahrol entupiu a goela de Carmem Miranda. Os grafites de Basquiat dinamitaram Manhattan como queria Drummond.

Manhatã, a cunhã do dinheiro com descendência indígena, definitivamente é uma das deusas mais imaginada do mundo. Manhatã é um desterro para os homens de boa cobiça. Manhatã é o mapa de si mesma, tão ao alcance que se confunde com sua própria representação, como se estivesse a própria terra do mapa. Em Nova Iorque as ruas são anônimas, no Brasil são nomes de militares, deuses e pseudo-artistas. Obama é o Zumbi do século XXI, só que o seu quilombo é um quilombasso, absoluto xadrez de estrelas. Esse é o lugar sonhado da Mátria dos Estados Unidos do Universo em que não se tenha hierarquia de culturas, Manhattan é Manhatã e as duas convivem bem, nenhuma cultura quer se impor ou tolerar a outra, mas apenas coexistir. Esse é o lugar mágico, e não o da globalização das pequenas diferenças com a global hegemonia norte-americana. Obesos norte-americanos caminham lentamente com as mulheres grávidas.

Tem coisas que só são passíveis de explicações quando se caminha pelo Guggeinheim, museu circular na beira do mundo. Toda vez que o cowboy da Mar-lboro aparece nos intervalos comerciais, alguém solta sua baforada e desabrocha como uma flor. Godot entra aqui de soslaio para avisar mais uma vez que não vem. Cada vez que o cowboy da Mar-lboro surge no mundo, os pedestres de Manhattan dançam nos cruzamentos perigosos, suas coreografias são ensaiados em ato pelas ruas anônimas. Os engenheiros construíram a América e eles são inocentes.

domingo, 16 de maio de 2010

os ingênuos

mesmo através do turvo e estilhaçado espelho das feras

mesmo através dos mapas litúrgicos

mesmo através das igrejas teleguiadas que te perseguem

qual será o novo desastre?


todo índice é símbolo

todo astro é caverna

tudo é artifício é tudo milagre

em todo esse tempo meu cinema era você


me manda uma mensagem de batom para naufrágio

sete segundos de radiação

um dilúvio

de cartões postais

puro aborto

luminoso


só os ingênuos não viram

uma mulher acaba de parir um peixe

rompendo a escuridão de todos os túneis do metrô

a rainha de sabá já chegou

quarta-feira, 12 de maio de 2010

o filme













O cinema agarra a ausência como um navio secreto que avança sem rumo incrédulo de pouso. Cine-língua, cine-poema, cine-rito, cine-nuvem, cine-lua. Câmera tédio. A câmera-tédio plantou seu jardim. Pelos cílios refinados o filme não cabe em si. Pessoas correm com medo dos tristes trens que furam a tela. No véu do olho a câmera inaugura o ar, a estrada se desloca em comunhão com o clarão a se inventar. Existiria o filme? Existirá?

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Lullaby (Augusto de Guimaraens Cavalcanti)

Palavras somem pelos guardanapos,
Janelas se abrem como bandeiras,
Teus olhos transbordam pelos muros e pelas casas eletrificadas
Pela eletricidade dos teus cabelos
A história já não consegue mais ser domesticadas em datas.
Mas, e o peso do ar?

Seu jeito anjo exterminador,
Mar em carne viva,
Mari-mar,
Acompanho suas pegadas como se fossem cidades.
Todas as manhãs jogo minhas asas mortas no mar.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cidade

Colocar um nome nas coisas seria colocar etiquetas com seus preços. A poesia das cidades não classifica as coisas. É o poema da ausência de artigos, a polidez do frágil, cemitério de céus sem nuvens. Venha ver os pincéis invisíveis formarem seus haikais de propagandas. Venha ser visto pela televisão (espelho invertido), venha ver a instabilidade. Venha ver a história jogar pela vidraça todas as suas nuvens de chumbo.

Cabeças humanas com etiquetas passeiam expandidas por espaços absurdamente vermelhos. O sonho coletivo é a cidade, o filme absoluto, a grande partitura.

Vem, vem jogar areia no meu passado. Vem, vamos mudar todas as placas de trânsito do lugar. São as nossas quatro asas contra o resto do mundo, são quatro asas nossas nestas esquinas de pedra. E você meu amor, se despe toda vestida de engarrafamento, acelera.

As fichas se acabaram, os orelhões dos deuses estão ocupados. Cidade das auroras em slow-motion; cidade dos olhos de aquário. A cidade é a grande igreja com suas chuvas de janelas escorrendo pelos galhos das tuas mãos. Flores nascem dos bueiros das calçadas rolantes. Andamos pelo resto da vida nesta procissão desiludida.

Para os parques do amanhecer caminhamos desde sempre. Pisamos por ilhas chuvosas, todas são luzes novas nos olhos velhos. Naquela avenida estará minha estátua desde sempre. Nenhum anjo irá nos corromper.

sábado, 24 de abril de 2010

Careless love (AmorAmerica)


Repare nessa estrada aberta em frente da tua tela: peixes pulam enquanto as nuvens purpúreas passam. Asfaltos estrebucham pétalas na nobreza dos submundos. E William Borroughs? O Henrique IV das latrinas proclama seus cowboys eternos de fulgazes parangolés. Balançamos compulsivamente nossas bandeiras. Tele-visões fora do ar, cacos de índios urbanos como nós nas procissões das discotecas; desiludidos e rádio ativos. A ilha dentro da ilha. E o que acontecem com as musas quando elas apodrecem? Argamassas siderais de pequenos dilúvios de gasolina. E seria a Amazon a última tentativa de invadir Manaus, ou teria o White Stripes feito melhor ao tocar ao vivo na Ópera Amazonense pela MTV? Enquanto isso Bob Dykan troveja: "Yippie, I'm a poet, and I know it. Hope I don't blow it." Parabólicas de Basquiat, rinocerontes grafitam muros invisíveis, falsos diamantes são dilacerados pelos areoportos de pânico. O não dito sempre arderá muito mais. Momas e CNNs aplaudem guardanapos pseudo-rabiscados em Guernicas patrocinadas. Mas, e onde você estava quando as torres choraram? Enquanto isso Hendrix expande sua dissonância em ruídos verdadeiros: calemo-nos para ouvir o único silêncio que importa; Hendrix, Hendrix.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

ana c.














queria nadar nas piscinas em que os semideuses

fumam pelos muros despedaçados do espetáculo.

a rua bem se sabe

é uma pluma de chumbo.

queria saber misturar gertrude stein com billy the kid,

mas caio aqui mesmo nessa auto-estrada,

nessa via sem heróis de plástico

e sem bandeiras para hastear.

vou dar minha orelha a um cego

e caminhar pelo lado sombrio da calçada.


tento colher os poemas despencados pelo chão.

PRÓXIMO SÁBADO NO CENTRO HÉLIO OITICICA 17 HRS

segunda-feira, 5 de abril de 2010

sexta-feira, 2 de abril de 2010

David Lynch







Somente através dos dinossauros digitais é que Laura Dern consegue invadir as pulsões de mar de Fellini. Frederico: a multidão deseja a sua capa. Lábios verdes e gramas vermelhas nos esclarecem que os floristas são só para disfarçar.

Cobre-se o céu com texturas e depois neste mise-èn-scene as cores impregnadas de abstração vêm atrás. Na super-highway se chega a Roma com um passo. Todas as estradas sujas são deixadas para trás. Elevadores caem e caem e caem.

Escuros telefones para nos clarificar, os jardins de dança correm com e até você. Os felizes acidentes provocam esta sinfonia de ventiladores. Espelhos limpíssimos de sol nos salvam de lâmpada em lâmpada. Todas as musas são canibais.

Os peixes da tela rastejam. Aeroportos sobem para as estrelas. Helicópteros cortam tua cabeça de suave desastre. Muito melhor é ser engolido por um outdoor e renascer na outdor do instante oceânico.

Algo agora se rompeu e se rompe por de trás dessa criança uivando baixinho na projeção. Mais solúveis do que nunca os peixes invadem o cinema. Somos todos peixes esculpidos por relógios de silêncio. Seja muitíssimo bem-vindo ao deserto do real.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Para Heath Ledger


Why so serious? Let's put a smile on that face.

O cotidiano está sempre atrasado. Coloque seus óculos de pólvora e parta para os fios do real sensível. Frature a ilusão. No avesso tudo pode se articular. Na fauna urbana dos monstros encantados. No cine-sensação do mundo esvoaçante e transitório das vísceras do próprio herói. Dos gregos e suas muralhas supostamente imunes ao tempo.

Queria julgamentos da história, Queria o fim do sono. Queria devorar as musas, mas agora o civilizado nu suspende suas mãos pegando fogo no cinema da rua. Nada é concreto até que desapareça.

Empilhar relíquias. A Multidão violenta da televisão flutua em cima de uma pedra com o globo ocular no universo. Na paisagem da boa digestão o poema é o transe. O poema é o transe. Jokerman, na gramática do equilíbrio o véu do Éden pode ser dinamitado. O rei da velocidade em um mundo teleguiado é também a máquina de fraquezas. Slides simultâneos de trânsitos. Para uma salvação sem santos - o verbo visual.

Mas a providência messiânica das capas de jornal não contém a fúria da solidão das galáxias. Queria que a paisagem fugisse de sua própria escravidão. Quebre a garrafa e derreta espelho, faz tuas colagens de presentes. Max Ernst já nos deixou bem claro que "não é a cola que faz a colagem". Mesmo assim você ainda fez muito bem em tentar teu suspiro oceânico na Tropicália do dilacerado.

O cotidiano está sempre atrasado. Nada é concreto até que desapareça.