quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Alguns pingos nos is



O Fluminense virou o Paulo Maluf da vez. Estranho os os torcedores dos outros 3 times do Rio serem agora os bastiões da ética. Não custaria perguntar onde estavam tais torcedores, em 1 passado recente, quando Eurico Miranda mandava & desmandava no futebol carioca, ou quando o Botafogo foi favorecido pelo Gama em 1999 ou então quando o Flamengo teve um goleiro assassino chamado Bruno? Falo sobre um passado recente porque, para o bem ou para o mal, o brasileiro é um desmemoriado mesmo, então nem adianta falar sobre os anos 80. Como prova desta falta de memória do brasileiro, vivo perto de onde Machado de Assis morava & o lugar hoje é uma ex-pizzaria e agora uma espécie de bistrô; de memória de Machado mesmo só 1 placa desbotada. Também, perto dali, no Cosme Velho, está a casa em que Cecília Meireles morou quase a vida inteira; a cas resiste quase descascando & sem qualquer referência à poeta que não gostava de ser chamada de “poetisa”, já que “poeta” seria, para ela, um termo universal e sem gêneros. Enfim, a antropologia mostra que toda sociedade precisa de um Judas simbólico para “malhar”. Por exemplo, Lévi-Strauss descreve no texto “O suplício do Papai Noel” como em uma cidade do interior francês, Dijon, 1951, um grupo de padres promovem o suplício & o enforcamento em praça pública de um boneco do “bom” velhinho vestido de vermelho a representar o vil materialismo estadounidense. O ensaio gira em torno da matriz arcaica da figura do Papai Noel, atualizada e americanizada pelo Ocidente. O Fluminense virou a bola da vez & a ética a palavra da moda de um país em que ainda pulsa uma lógica portuguesa de capitanias hereditárias. Agora, em 2013/2014 o pais & seus cidadãos resolveram denominar-se bastiões da ética. (Ainda que o Fluminense só tenha sido beneficiado indiretamente pelo erro primário da Portuguesa; o maior beneficiado foi o Flamengo porque cometeu o mesmo erro primário & so não caiu porque a Portuguesa também o cometeu. Se o Fluminense quisesse, por fidalguia, devolver 1 ponto à Portuguesa, quem seria rebaixado seria o Flamengo. Mas falando sério, a lei so foi cumprida, foi só isso que aconteceu. Seria fora da lei voltar atrás de um documento assinado por todos os clubes & desrespeitado por apenas 2 times durante o campeonato inteiro ao escalarem seus jogadores irregulares. Enquanto tricolor, não vejo nada a comemorar no ano de 2013, a não ser a volta do nosso ídolo Conca.). Engraçado mesmo é quase ninguém comentar sobre o absurdo que é a Arena Corinthians, estádio dado literalmente de presente pelo presidente Lula ao seu time de coração. Também quase nada falamos sobre o superfaturamento vergonhoso do Maracanã, que custaria aproximadamente 200 milhões de reais e que custou, na verdade, até agora, 1 bilhão de reais e 12 milhões, isso é ético? Se tivessem demolido o estádio, como fizeram em Wembley, a “arena” Maracanã teria saído deveras mais barata. 
Também não custa pensar em que tipo de futebol estamos defendendo num Maracanã sem “Geral” & com ingressos a mais de 100 reais. Mais de 100 reais num ingresso não representa em nada o preço de entrada para um esporte dito popular num pais em que o salário mínimo em 678 reais. Outro dia conversando com meu cabeleira botafoguense ele soltou 1 piada: “Com o ingresso a cem reais até a torcida do Flamengo é educadíssima agora no Maracanã”. Tal piada tem sim 1 fundo de verdade, afinal, quem a não ser 1 elite que tem dinheiro “sobrando” para gastar com o entreternimento futebolístico. Estamos transformando o futebol em 1 esporte de elite e em 1 tipo exclusivo de entretenimento. Para a cabeça dos especuladores & defensores de nosso capitalismo selvagem, nada mais normal que o lugar do pobre seja mesmo fora dos estádios, no máximo assistindo os jogos pela televisão “pública” de 1 bar. (eu definitivamente contesto tal opinião, já que sou de uma época ainda de Geral no Maracanã em que o preço era apenas 1 real!).
Sobre ironias, piadas & paródias, o “certo” agora é tacar pedras em cada um dos torcedores tricolores. O caráter mais lúdico do futebol está se transformando em um depósito para todas nossas mágoas, ressentimentos e de toda nossa animalidade. Apedrejem o Fluminense hoje, que no futuro outro time fará o papel de Judas no futebol brasileiro; façam já suas apostas em qual será o próximo a ser apedrejado. 
 
(Sempre fomos bastiões da ética. Aqui, tentando colocar alguns pingos nos is, para quem quiser relembrar factualmente um pouco do que aconteceu nos anos 80: 

1981: Palmeiras saiu da segunda para a primeira divisão no mesmo ano.
1983: Vasco, Santos & Guarani não se classificaram para o Campeonato Brasileiro de 1984 & entraram pela “janela”. 
1986: Santos em penúltimo em 86, foi salvo pela Copa União em 1987, assim como o Botafogo. 
1987-Flamengo & Internacional descumpriram o regulamento & deveriam ser rebaixados por isso, como foi o Coritiba em 1989.
1992-O Grèmio ficou em oitavo na segunda divisão (seria rebaixado para a terceira), e o que fez a CBF? Mudou o regulamento para subirem 8 times e assim o Grêmio foi beneficiado. 
(Entramos nos anos 90, época deveras remota para os desmemoriados)
1993- Botafogo & Atlético MG ficaram nas últimas posições, mas não foram rebaixados.
1996- A virada de mesa que salvou de tabela o Fluminense & o Bragantino (este, time do ex-presidente da CBF, Nabi Abi Chedid). Na verdade o que aconteceu foi 1 composição entre a CBF & o clube dos 13 para salvar Corinthians & Atlético PR, envolvidos em um escândalo de arbitragem. 
1999- A Copa João Havelange foi criada em 2000 para salvar o São Paulo (que escalou Sandro Hiroshi irregular), Botafogo & Internacional foram os clubes que fugiram do descenso pelo tapetão. Em tal ano não houve disputas da série A, B ou C; houve 1 torneio só com todas as divisões, divididas em módulos, classificados pelo ranking. O Fluminense ganhou a série C de 1999 e estava com a tabela pronta na série B em 2000 e, voltou à série A por mérito, por ter sido um dos melhores classificados na João Havelange em 2000, tal qual o São Caetano que veio do módulo amarelo). 
2000- Corinthians termina a João Havelange em penúltimo, mas também não foi rebaixado.......  

(Todos os fatos podem ser questionados, não sou o único dono da verdade,no entanto, esta lista aqui mostra que não é de hoje que nosso futebol é resolvido fora de campo.)

domingo, 15 de dezembro de 2013

Futebol (nossa eterna terra do nunca)


Futebol (nossa eterna terra do nunca) 
O futebol, nossa eterna terra do nunca, merece ser teorizado e complexificado. Flamengo &Fluminense são os irmãos Karamasov do futebol brasileiro, segundo Nelson. Ambos já nasceram com a vocação da eternidade &como inimigos; eternos adversários (sociológicos, filosóficos, mitológicos, mas não mortais). O futebol brasileiro possui rivalidades que não podem jamais serem reduzidas a meros binarismos; aqui não é como o futebol espanhol. Temos ao menos 10 times grandes capazes de competir 1 título brasileiro toda vez que o ano começa. Alguém precisa escrever sobre isto. O futebol brasileiro é + complexo do que uma só antinomia ou uma só dicotomia. Não somos sóCorinthians &Flamengo; nosso futebol por enquanto se nega a deixar-se reduzir por uma só binaridade; no Rio, por exemplo, temos 4 rivais. Enfim, eu, enquanto torcedor, reconheço a tradiçãodo Flamengo enquanto adversário &oponente do Fluminense e, se ainda que inimigo dentro das quatro linhas, não inimigo mortal. Como diria Nelson, nem a morte nos exime de nossos deveres clubísticos. Assim sendo, escrevo aqui este texto.Todo torcedor é um vândalo emocional; eu também, inclusive. No entanto, a mídia tem tratado o Fluminense na última semana praticamente como se tal clube tradicional fosse o novo Lalau da vez. Chegou-se ao ponto do presidente Bandeira de Mello falar em um golpe, como se os tricolores fossem golpistas. É muita leviandade associar o Flu ao governo militar (ainda mais sabendo que a denúncia de irregularidade partiu da CBF). Penso que o Bandeira Leviano de Mello deveria falar menos como torcedor e mais como presidente de uma instituição tradicionalíssima. Já foi triste ver o tal Bandeira de Mello cantando em um vídeo a música do chororô (paródia ao também tradicional Botafogo). Penso que o Bandeira deveria aprender algo com Pelé, que consegue dividir-se entre persona e pessoa; Édson e Pelé. Dito isto, só chamei o time do fla de time do roberto marinho” em resposta ao Bandeira associar o flu ao golpe militar, mas penso que é deveras redutor chamar, por exemplo, também o flu de, atualmente, “time do celso barros” ou fla de time “estatal” (contando os anos de patrocínio da petrobrás & agora caixa econômica). Isto dito, estamos num país que, se fosse realmente serio, já teria tido casos de falências de times tradicionalíssimos, como aconteceu na Itália (embora os italianos tenham tradição em matéria de corrupção), por exemplo, no caso em que a Fiorentina foi declarada judicialmente falida. Nesta lista brasileira o Flamengo, Vasco & Fluminense já teriam falido, respectivamente, claro; já que os flamenguistas são os maiores devedores. Por exemplo, onde teria ido parar Edmundo Santos Silva, a ISL, a máfia russa de Kia Jorabchian do caso corintiano, Eurico Miranda, a Arena Corinthians, o superfaturamento do Maracanã? A lista é extensa e envolve, também, o Fluminense. Nas maiores vergonhas de todos os tempos do futebol brasileiro colocaria no meu top 10 a semi-final da Copa Libertadores de 1980 em que o juiz José Roberto Wright claramente favoreceu o Flamengo & também a virada de mesa promovida por Eurico Miranda (Vasco) para encobrir a CBF de1 esquema de compra de juízes promovido pelos presidentes de Corinthians & Atlético-PR; no entanto a imagem daquele ano que ficou marcada foi a da figura de bufão decadente Álvaro Barcelos & sua champagne. A lista é extensa e, penso, que cada torcedor tenha o seu Top 10.
 Isto também dito, penso que deveríamos ter uns 20 times tradicionais do futebol brasileiro com lugares fixos no campeonato brasileiro que poderia ter até + times do que o número atual; seria justo. O futebol brasileiro se confunde com a história destes aproximadamente 20 clubes: Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo, Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco, Atlético-MG, Cruzeiro, Bahia, Vitória, Grêmio, Internacional, Coritiba, Atlético-PR, Sport, Goiás. Tais times são patrimônios imaterias & imateriais de nosso país; tais clubes fazem parte da cultura brasileira. Se tombamos ruínas, qual o problema em tombarmos times de futebol? Seriam os times menos abstratos que as ruínas e suas memórias? Penso que esta é uma questão a ser pensada. Não vejo problema algum em assumirmos criticamente isto: somos ainda um pais mais de capitanias hereditárias (herança portuguesa) que de uma meritrocracia solidamente estabelecida; temos que ligar reiteradamente tradição e novidade; meritocracia & tradição não são necessariamente antônimas. Eu, como torcedor, por exemplo prefiro muito mais ter o Vasco como adversário do que a Chapecoense. Fico triste com a ruína vascaína; os vascaínos abasteceram o campeão Cruzeiro com 2 jogadores fundamentais (Dedé & Nílton) & agora estão cedendo o meio-campo Marlone. Fico triste de ver o Vasco destinado à herança portuguesa da palavra saudade; herança esta que todos nós brasileiros temos em graus variados. Nunca é demais lembrar que o primeiro jogador negro jogou no Vasco. Enfim, ainda assim, mesmo eu defendendo teoricamente o Vasco, por lei, o Fluminense deve, por meritocracia jurídica, permanecer ma primeira divisão; a Portuguesa realizou o que bem se poderia denominar de piada de português. Aos mais de 30 minutos passados do segundo tempo de 1 jogo que nada valia, a lusa resolve colocar o jogador irregular neste jogo que de nada valia; nada valia porque agora vale. Assim é a lei: os times que assinaram participação no campeonato brasileiro sabem que se cometerem tal infração perderão 4 pontos tal & qual o grêmio “prudente” perdeu em 2010. A regra é clara ou não é? Se não for há que se ressucitar o grêmio prudente para a série A junto à Portuguesa. Se a lei não for clara, não nos servirá de nada. A lei pode até ser discutida filosoficamente, como o fez um filósofo paulista admirador da lusa no estado de são paulo, essa última semana. No entanto, uma lei não pode ser mudada ou revogada durante um processo já em curso; como também não podem ser distorcidos os fatos, se isso ocorrer não teremos mais lei. 
Enfim, já ví um time ir do pó ao pó & ressurgir das ruínas. Ví um Carlos Alberto Parreira & um Branco jogador (com a barriga quase do tamanho atual da de Romerito) fazer ressurgir das cinzas 1 Fluminense; frente à esse ressurgimento a ressureição do time dos guerreiros é pato). Portanto, se não houver lei neste caso, o Fluminense viverá & ressurgirá das cinzas novamente junto de seu fiel escudeiro Darío Conca, posto que é imortal (tal qual o tricolor gaúcho de Lupicínio). Se bem que, hoje em dia, para um clube manter-se imortal, após a lei Pelé (Pelé & não o Édson), há que se ter um mecenas por de trás ou, então, ser macomunado com o Estado & com empresas estatais. Vivemos numa época do $ (infelizmente para uns, felizmente para outros) & money doesn’t talk, it swears, como diria Dylan. 
Sou totalmente contra chamar flamenguistas de mulambos (em referência à Maria Mulambo & também ao fato de as mais importantes entidades da macumba serem vermeho e preto, como Exu & tantos outros) & os tricolores de florminenses (em referência ao pó de arroz que1 jogador preto teve que colocar para ser aceito num campo de brancos. no entanto, muitos anos após tal episódio o fluminense teve ídolos negros comoveludo, didi, waldo & assis). Isto me parece desrespeitar as 2 tradições, embora no campo lúdico da paródia seja compreensivel e até saudável. Temo que se tal brincadeiras continuarem, acabaremos algum dia nos chamando de hienas. Enfim, estamos perto do dia 17 de dezembro, data em que os gregos comemoravam a Saturnália (festa tão interessante quanto o natal). Prefiro terminar este texto pensando nesta espécie de carnaval saturnal dos gregos. 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Minha dissertação de 2010 acaba de ser viabilizada para leitura online, chama-se "Arte e vida: Cazuza, Lobão e Arnaldo Antunes", orientada por Santuza Naves. Na banca de defesa estavam Fred Coelho e Valter Sinder. À quem interessar possa, aqui segue o link:
http://www.livrosgratis.com.br/arquivos_livros/cp153419.pdf