quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Acaba de ser publicado na Germina (Revista Contemporânea de Literatura & Arte) um poema meu chamado "A última ciência da noite", que escrevi em torno de "O poema contínuo", do poeta português Herberto Helder; segue aqui o link: http://www.germinaliteratura.com.br/2016/augusto_guimaraens_cavalcanti.htm

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Última chamada para o lançamento do “Máquina de fazer mar". Estão todos convidados a aparecerem por lá na 7Letras em Ipanema das 18 e meia às 22 horas – endereço: Visconde de Pirajá, 580, loja 320. (Galeria Vitrine de Ipanema, ao lado da Livraria da Travessa). Ano que vem pretendo lançar o livro em SP e BH, enfim, hoje é o dia.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Os cartazes sustentam o ar
A nebulosa dos olhos faísca na gramática da noite
Um mar saído do éter da eternidade transborda
seus sonhos de naufrágios; no escuro é possível brilhar mais

Os espelhos são os maiores responsáveis
pelo nascimento do dia
A música vem de dentro;
o mar não deságua em trevas

Densos espelhos captam mares
de outros meridianos, céus esvaídos por lunetas,
estrelas perdidas pelas calçadas

O éter do dia é obra da noite:
a claridade que transtorna a tessitura do escuro,
a noite refaz a aurora em desassombro

Objetos transbordam suas brechas,
os nomes quase nunca palpáveis,
o sangue circula sem ninguém precisar ordenar

O mar assiste ao deschorar das coisas:
melancólicos trópicos a ecoar e escoar
nos limites do mundo, o mar
sem fundo, o mar
dentro do mar

Sugar o açúcar e lhe devolver o sugar
Sugar o açúcar e lhe devolver o amargo
De sugar a sugar
Do açúcar ao sal do mar

("Máquina de fazer mar" – 2016 – AGC)


E este chão verbal que insiste em não desabar
para os pés que o inventam na noite violentada
por sapatos que pisam e a repisam
a compor esta enorme estrela feita de escombros

As mãos queimam quanto maior a ausência
quanto mais os relógios de pulso tentam cronometrar
o aflito movimento das coisas

(Melhor seria esperar que os objetos saltassem e escapassem de suas formas frias...seria quase como enterrar um poema ou colocá-lo debaixo de uma pedra para deixar que as palavras úmidas de grito quarassem no sol da terra)

A palavra é tão frágil quanto a vida
e em seu seio todas as cidades são azuis

A maior luta corporal é feita da batalha
entre os nomes e os objetos

A maior luta corporal das palavras
é feita do sangue dos dicionários

O tempo das palavras tem um corpo árido
de um fogo que brilha até no fundo do mar

O corpo é um traidor de imagens


("Máquina de fazer mar" – 2016 – AGC)

Poema que escrevi há cerca de 6 anos atrás para o Portal Literal (convidado pelo Ramon Nunes Mello), inspirado e contaminado pelo livro mais experimental do poeta maranhense, "A luta corporal" (1954),em ocasião dos 80 anos do Ferreira Gullar:



A grande ilusão é a de que os prédios dançam
para acompanhar os passos dos novos amantes

Em ato, amantes modernos perdem seus nomes próprios e
habitam as últimas claridades do fogo

Em ato de novos amantes, a íris do dia muda de cor,
novos arranjos são formados por mares lunares
– escuras planícies de magmas solidificados

Com seus peitos de sol denso eles conquistam, por instantes,
os espaços por onde escapariam os voos dos pássaros
e as formas transitórias das flores

Dos naufrágios de amantes recentes é que surgem as imagens
feitas pelas sombras singulares dos obscuros contornos das coisas:
trajetos entre bordas, pontes entre quedas, asas sobre asas

A grande ilusão é a de que os dias
não oxidam os jardins e não corroem os pomares

Flutuam significados e oscilam significantes,
verbos levitam enquanto palavras são suspensas pelo ar
Universos são desconcertados e recompostos por
travessias de plumas novas

E a maré da vida a cobrir nosso assombro
E o inconsciente marítimo a escorrer sobre tudo
E o verdadeiro verão, quase sempre glacial
E o mar uterino do Leblon a embalar nossa embriaguez

("Máquina de fazer mar" – 2016 – AGC)


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Tudo que não era homem se reunia ali
– ainda que o pano noturno sempre caísse,
ainda que diamantes desabassem dela,
tudo que não era homem se reunia nela

Seu sorriso era do tamanho de um pequeno planeta,
de seus olhos saíam pequenas esferas
Ainda que o presente fosse carnificina,
ainda no meio de tão pouco sol e tanta treva
O céu tinha a cor das suas unhas: azul petróleo

Novas fronteiras eram vertidas em espanto,
novos países fundados na geografia de seu corpo,
no mar imerso do corpo, corpos fadados às ilhas,
talhados de enganos, filhos de escombros,
diamantes de escombros

Ainda que houvesse tanto abismo e tão pouca ruína,
tanto naufrágio e tão pouca queda, tanto mar
e tão pouco sal, ainda assim, haveria ela
de transformar qualquer mapa em esboço,
qualquer acúmulo em dádiva

No oceano de corpos em órbita
ela conduzia os rumos movediços dos dias,
o mar latejante das horas, o mar
sem início ou fim, o jasmim
da palavra jamais

("Máquina de fazer mar" – 2016 – AGC)