sexta-feira, 16 de julho de 2010

segunda-feira, 5 de julho de 2010

R.P








Estes últimos dias não têm sido fáceis. Como diria Roberto Piva, o africano não têm uma cultura da "emoção". É da "comoção" mesmo. É mais forte ainda. "Tragédia não tem solução. Drama tem." Pois é, tudo na África tem que ser mais trágico e comovido. No dia 02 de julho o Brasil caiu para a laranja mecânica e maquinal na África, e no dia 03 de julho “morreu” o poeta Roberto Piva; o riso do galo não anunciou o dia. A Holanda certa vez tentou criar o "futebol total" com o impensado carrossel, a instintiva “obra de arte total”. Mas, tudo que vimos em solo africano foi um canarinho desconjuntado e acreditando na força de seus mitos ancestrais. Mas, o que dizer nos momentos irreversíveis? Não são todos os instantes irreversíveis, esvoaçantes como formas que transbordam oceanos com seus pássaros a nos bicar o fígado? Mulheres com penas se despem flutuantes para o outro lado dos espelhos, quando os espelhos dormem. Me lembro do texto que Octavio Paz escreveu sobre a morte de André Breton. Nele Paz proferia: "Não é a primeira vez que Breton morre. Ele o soube melhor que ninguém: cada um de seus livros centrais é a história de uma ressurreição. Não sabemos o que seja realmente morrer, exceto que é o fim do eu – o fim do cárcere. Breton rompeu várias vezes este cárcere, o alargou e o negou em face ao tempo e, por um instante sem medida, coincidiu com o outro tempo. Esta experiência, núcleo de sua vida e de seu pensamento, é invulnerável e intocável: está para além do tempo, para além da morte – para além de nós mesmos. Saber-lo me reconcilia com sua morte de agora e com todo morrer." Por isso, podemos dizer que Roberto Piva não morreu, ele o sabe melhor do ninguém ressurgir tal qual um pajé da palavra. Para a magia cotidiana de R.P, "Cristo era Dionísio de ressaca." Assim Piva se auto-definia: "Não sou xamã de cemitério. Eu sou um curandeiro das palavras." Anjos eletrificados nos surgirão através dos gritos de rock saído das cavernas do ser. Para R.P, Jim Morrison representava "a própria imagem do apocalipse", como narra o poeta paulistano: "Quando me disseram que ele havia morrido eu senti que estava faltando um dragão em algum lugar do universo. Ele representou para mim uma grande parte da minha vida: a poesia do Whitman, o cafajeste bebedor de cerveja, as portas da percepção e uma visão angélica, e ao mesmo tempo selvagem, do amor. No fundo todos nós somos jim-morrisons amordaçados." Sem objeções, R.P viveu certos instantes, viu certas evidências que são a negação do tempo e das verdades não antes codificadas. Este é o seu ano, 2010 (o ano do Tigre). No fundo todos nós somos jim-morrisons amordaçados. Se é que agora não voltaremos a ver-lo, mais solúvel do que nunca estará Piva, iluminado pelo Jardim da Luz, esvoaçante como todo xamã. Dessa maneira, nos descreve R.P: "Eu vivo apenas no hoje, portanto vivo eternamente." Toda morte, uma contradição.