terça-feira, 29 de junho de 2010

Amor Bulgária (por 7A)

A primeira vez que ouvi falar na Bulgária, eu não tinha a mínima noção que ela não existia. Foi na Copa do Mundo de 1994, a partir de Histo Stoichkov (o melhor jogador búlgaro da história), que me chegaram as primeiras notícias daquele insipiente país. Me lembro bem que o búlgaro comemorava cada gol com um grito lançado ao ar clamando por sua possível, mas incomprovada existência. Aliás nessa auspiciosa e abstrata seleção, não só Stoichkov tinha atos imprevisíveis, como o pirotécnico Letchkov também, seguido por Balakov, Ivanov e Penev. Com a camisa 8, Stoitchkov era o responsável por comandar um time que tinha talento, embora parasse tantas vezes nos seus próprios traumas. Mas, convenhamos, ninguém apostava um tostão furado nos búlgaros. Até 1994, nunca tinham vencido sequer um jogo em Copas do Mundo – isto porque já haviam participado de cinco delas; eram 16 atuações, com constrangedores seis empates e dez derrotas. Se a Bulgária existisse, consequentemente deveriam existir os búlgaros. Definitivamente 1994 foi um ano mágico e inesquecível para toda a cosmogonia búlgara e para sua bulgarosofia, como não poderia deixar de ser. Após a classificação heróica nas Eliminatórias, quando o time virou sobre a França e a eliminou no último minuto, em plena Paris; a tão sonhada primeira vitória viria em solo americano. Com um estrondoso 4 a 0 sobre o panteão decadente da Grécia, a maldição búlgara estava prestes a ser desfigurada, dizem que sob aplausos esfuziantes do escritor Campos de Carvalho.

O grande trauma búlgaro é ter que desafiar a lógica sempre que se quer vir à tona e virar o mundo de pernas para o ar. Como se sabe tais inversões sistêmicas não acontecem todo dia, e o esquadrão búlgaro, por exemplo, nunca mais conseguiu vencer em outra Copa do Mundo. Preferiu se recolher a sua tão estrondosa invisibilidade. Invisibilidade esta que vem assolando milhares de logicistas e bacharéis do bom senso ao redor do globo. Enquanto isso, em Sófia, Stoichkov continua exibindo intermitentemente seus passes de mágica como tantos outros búlgarologos fizeram no passado. Esta é a insofismável e ululante seleção base búlgara que clarificou o estádio nacional Vasil Levski em 1992-1996: 4-3-3. “Mihailov; Tzvetanov, Ivanov, Hubchev e Kiriakov; Yankov, Balakov e Letchkov; Stoichkov, Kostadinov e L. Penev.”

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Amor México (por 7A)
















Infelizmente os aztecas se foram. Logo eles, mesoamericanos florescidos no planeta África. Pois é, nem o gol litúrgico de Hernandez pôde dar um sopro de esperança ao povo das ilhas artificiais. Sim, o jogador Blanco passou em brancas nuvens e o México a partir de agora seguirá as instruções dos seus deuses, voltando para casa tal qual uma águia pousando em um cacto. A serpente foi devorada sob os prantos de Roberto Gómez Bolaños, não o seu simulacro mal formulado pelo escritor chileno Roberto Bolaño, mas sim o Shakespeare daquele inconfundível país. Logo logo a Wikipédia em esperanto anunciará: Os corações vivos foram arrancados e levantados aos céus enquanto o sangue escorria sobre todos os seus degraus. Tudo foi telepatipatéticamente televisionado pela TV Azteca. Assim, em meio à romaria de tripés e lentes, El Chavo se despe e se despede tal qual o filósofo Diógenes em seu barril. É inegável que Chespirito unificou as Américas mais até do que Simón Bolívar, Colombo ou qualquer MERCOSUL de araque, me sussurra Sobrenatural de Almeida. Segundo os nossos amigos mexicanos, os astros e o sol precisam de suor e lágrimas humanas para nascerem todos os dias; aqui está! Esqueçam os clichês do futebol.

domingo, 27 de junho de 2010

Piscando com os punhos (poemas de Billy Corgan traduzidos por Augusto Guimaraens Cavalcanti). Do livro Blinking with fists (2004)

Pense nos pássaros em voo e você irá começar a se aproximar /Como as faces veem da escuridão familiar /Para cumprimentá-lo novamente / Eles arrancam as cordas e cantam os refrões que eu conheço tão bem, e mantenho tão perto. Ao longo dos suaves rios e verdes vales até chegarmos à beira do vasto oceano / O maior mar que se pode imaginar e mais/ Levante sua mão e deixe os pássaros voarem com essa música doce / Velozes nós voamos por sobre as águas /Cada vez mais rápidos até aclararmos, e nossas palavras se iluminarem, e as memórias das coisas perdidas se clarificarem também / O sol alça voo / Imagine isso do ponto de vista do sol / Essas aves e o que se move à velocidade da luz sobre o azul / Bem, se você fosse o sol, iria rir muito! /Finalmente, depois de uma viagem tão momentosa /Você desacelera em uma ilha deserta, exuberante como a vida /E em sua terra estéril você encontrará o peito de mar de um baú usado /Polido pelos anos de grosseira manipulação/ Abra esta caixa e você irá encontrar no interior /Uma única cavidade e a poesia do meu coração / Arrastando esta caixa de mar ao redor da curva /Através da areia em uma selva densa, com flores e sombras / Nós tomamos o caminho esquecido até a encosta /Até à direção do sol a sorrir /Recolhendo sua sabedoria, e sua dádiva /Passado o fantasma que sussurra as relíquias de um outro passado / Escalamos para o topo / Porque o tempo não vai ficar parado por nós / Mas ele irá fingir de vez em quando / E aqui, esquecidos, somos só você, eu / Um peito de mar, segurando uma única noite dos namorados e a poesia dos nossos corações / Uma única lâmpada de luz nesta sala/ É escuro aqui o tempo todo / Se o teto havia capturado apenas os meus sonhos e pesadelos semelhantes, / Que histórias poderia mostrar / Ela está aqui, a única que eu amo, desejo, concebo, resgato, tudo para a própria tristeza do meu coração/ Estou perdido nesta sala, mas este é o lugar onde os corações são escritos / A vista do meu maior pensamento e infeliz canção / Não há pássaros aqui para alçar vôo / Nenhum oceano para sobrevoar, nenhuma ilha para chegar / Nenhum sol para me surpreender chorando /Este é o dom do esquecimento e sua opaca dança / Revelando agora a poesia do meu próprio peito / a sua tristeza e seu desejo sem nome que uma vez chamei de felicidade / Despojado de seu título e dopado para mostra / As lâmpadas bailam, as crianças cantam/ O galo cacareja e eu procuro dormir / Em algum lugar do passado as cicatrizes, os carros vazios e os bares intermináveis cheios de lembranças / Eu quero subir a partir deste buraco / E traçar uma fuga eu mesmo por cima das rochas abaixo / Porque um pulo necessita de intenção / E a intenção exige desejo / Para registrar desejo neste órgão chamado necessidade /Você precisa de mim? /Então me empurre mais, meu peito e meu mar / As aves vão me seguir / Refaça os passos, até ao limite máximo / Volte com a lâmpada, com os fios elétricos / Eletrizados bem para fora de Manhattan /Saindo por um outro lado / Para a direção de uma criança, de um sonho /Um peito rabiscado com um x, e que a verdade seja dita com raiva/ Revelando agora a poesia do meu coração / E as copas que pintam nos baralhos / Os desenhos das molduras / E sua gaiola real, eu

Um poema, se quiser: Ondas suaves raiam fora do alcance Tudo que eu respiro é meu Meu nome é somente uma casca a ser retirada lentamente como a pele das questões formais Lentamente do meu sexo eu embaralho os sindicatos de oferta As vozes silenciadas estão aqui, mas eles já estão saciados pela espera total por um tropeço Isso certamente deve vir “neste momento”, alguém declara em voz alta (na praça anônima) “desta vez não haverá nenhum tropeço” E a multidão, em uníssono entra descontroladamente em erupção, “Enquanto eu durmo eles vêm em pares para tapar minha cabeça e me ensinar aquele verso antigo que tento lhes dizer por toda minha vida redundante Ao colocar o dedo no meu templo para mostrar sabendo Com hematomas e cicatrizes Eu estou piscando com meus punhos As linhas do coro se alinham para cantar Uma respiração profunda, pronta para começar Tudo que eu respiro é meu Um bebê chorando quebra o silêncio Segue o riso constrangedor, a fim de sinalizar a " ordem divina", diz alguém caindo das chaminés, através das veias, membros são jogados para fora das obras desenhadas na sujeira, as figuras são retratadas em um impressionante ato de repouso pelos seus pulsos que ainda estão piscando

terça-feira, 15 de junho de 2010

sexta-feira, 11 de junho de 2010

gasolina

- Lá no cinema ao ar livre

Eu venho, mãe, de mirar

Um mar falso e verdadeiro

Que é o mar e não é o mar.

-Pois o cinema ao ar livre,

Filho, nunca voltarás.

Porque o mar no cinema

Não é o mar e é o mar. (Verão – Pedro Salinas)[1]

Sempre desconfiei que a verdadeira profundidade

Estivesse na superfície

Das coisas.
Walt Whitman bem nos ensinou que

Seja de treva ou de luz,

Todo momento é um milagre.

A montagem não explica a imagem,

Poetas não explicam o sussurro,

O sussurro não explica o acaso.

Mas seria a poesia, cinema em estado bruto?

O cinema explode ao ar livre seus aeroportos de carne.

O filme detona sua tela de raro oceano,

Seu mar cínico e adequado.

Mar tão aparente quanto irreal,

Mar sem margem,

Desterrado mar,

Noturno como nenhum cinema ao ar livre.

E eu não me engano neste incêndio,
And I’m only happy when it rains.



[1] Tradução de Alphonsus Guimaraens Filho, no livro Poetas de outras terras (traduções de Alphonsus de Guimaraens Filho), Edições Laranjeiras, 2005.