sexta-feira, 11 de junho de 2010

gasolina

- Lá no cinema ao ar livre

Eu venho, mãe, de mirar

Um mar falso e verdadeiro

Que é o mar e não é o mar.

-Pois o cinema ao ar livre,

Filho, nunca voltarás.

Porque o mar no cinema

Não é o mar e é o mar. (Verão – Pedro Salinas)[1]

Sempre desconfiei que a verdadeira profundidade

Estivesse na superfície

Das coisas.
Walt Whitman bem nos ensinou que

Seja de treva ou de luz,

Todo momento é um milagre.

A montagem não explica a imagem,

Poetas não explicam o sussurro,

O sussurro não explica o acaso.

Mas seria a poesia, cinema em estado bruto?

O cinema explode ao ar livre seus aeroportos de carne.

O filme detona sua tela de raro oceano,

Seu mar cínico e adequado.

Mar tão aparente quanto irreal,

Mar sem margem,

Desterrado mar,

Noturno como nenhum cinema ao ar livre.

E eu não me engano neste incêndio,
And I’m only happy when it rains.



[1] Tradução de Alphonsus Guimaraens Filho, no livro Poetas de outras terras (traduções de Alphonsus de Guimaraens Filho), Edições Laranjeiras, 2005.

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