- Lá no cinema ao ar livre
Eu venho, mãe, de mirar
Um mar falso e verdadeiro
Que é o mar e não é o mar.
-Pois o cinema ao ar livre,
Filho, nunca voltarás.
Porque o mar no cinema
Não é o mar e é o mar. (Verão – Pedro Salinas)[1]
Sempre desconfiei que a verdadeira profundidade
Estivesse na superfície
Das coisas.
Walt Whitman bem nos ensinou que
Seja de treva ou de luz,
Todo momento é um milagre.
A montagem não explica a imagem,
Poetas não explicam o sussurro,
O sussurro não explica o acaso.
Mas seria a poesia, cinema em estado bruto?
O cinema explode ao ar livre seus aeroportos de carne.
O filme detona sua tela de raro oceano,
Seu mar cínico e adequado.
Mar tão aparente quanto irreal,
Mar sem margem,
Desterrado mar,
Noturno como nenhum cinema ao ar livre.
E eu não me engano neste incêndio,
And I’m only happy when it rains.
[1] Tradução de Alphonsus Guimaraens Filho, no livro Poetas de outras terras (traduções de Alphonsus de Guimaraens Filho), Edições Laranjeiras, 2005.
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