segunda-feira, 20 de junho de 2011

Cartola (por Augusto de Guimaraens Cavalcanti)

Isto não é uma cartola. Cravado nas cores alvas, Cartola sorri.
Não, não se trata da cartola surrealista na cabeça dos homens
Anônimos pintados por René Magritte, mas sim o Cartola do peito aberto de Mar.
Como uma luz negra na noite tardia, Agenor Cartola Miranda
Jamais retirava seus óculos escuros lembrando
Roy Orbison com sua sabedoria indevassável.
Tal qual Cruz e Sousa desterrado
ou Lupicínio vociferando o peito tão forte
como se de granito fosse o seu rude brilho. Assim, qual um vulto,
Cartola parece nascer da noite. Fotógrafos sonhavam
Passivos sobre seus sóis abatidos.
Embriagados os poetas devoram o Universo. Enquanto isso Cartola
transpirava, atravessava travessias
Pelas dobras, transformava as bordas, seu blecaute não cabia em si.
Ainda resta uma cadeira vazia, uma cal de móbile,
uma ode de trapo sobre este céu – pano de estrelas.
Baralhos eram jogados ao ar para ninguém.
Cartola com seus olhos inflamáveis de gasolina.
No blecaute se pode enxergar muito melhor.