domingo, 4 de dezembro de 2016

E este chão verbal que insiste em não desabar
para os pés que o inventam na noite violentada
por sapatos que pisam e a repisam
a compor esta enorme estrela feita de escombros

As mãos queimam quanto maior a ausência
quanto mais os relógios de pulso tentam cronometrar
o aflito movimento das coisas

(Melhor seria esperar que os objetos saltassem e escapassem de suas formas frias...seria quase como enterrar um poema ou colocá-lo debaixo de uma pedra para deixar que as palavras úmidas de grito quarassem no sol da terra)

A palavra é tão frágil quanto a vida
e em seu seio todas as cidades são azuis

A maior luta corporal é feita da batalha
entre os nomes e os objetos

A maior luta corporal das palavras
é feita do sangue dos dicionários

O tempo das palavras tem um corpo árido
de um fogo que brilha até no fundo do mar

O corpo é um traidor de imagens


("Máquina de fazer mar" – 2016 – AGC)

Poema que escrevi há cerca de 6 anos atrás para o Portal Literal (convidado pelo Ramon Nunes Mello), inspirado e contaminado pelo livro mais experimental do poeta maranhense, "A luta corporal" (1954),em ocasião dos 80 anos do Ferreira Gullar:



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