sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Tudo que não era homem se reunia ali
– ainda que o pano noturno sempre caísse,
ainda que diamantes desabassem dela,
tudo que não era homem se reunia nela

Seu sorriso era do tamanho de um pequeno planeta,
de seus olhos saíam pequenas esferas
Ainda que o presente fosse carnificina,
ainda no meio de tão pouco sol e tanta treva
O céu tinha a cor das suas unhas: azul petróleo

Novas fronteiras eram vertidas em espanto,
novos países fundados na geografia de seu corpo,
no mar imerso do corpo, corpos fadados às ilhas,
talhados de enganos, filhos de escombros,
diamantes de escombros

Ainda que houvesse tanto abismo e tão pouca ruína,
tanto naufrágio e tão pouca queda, tanto mar
e tão pouco sal, ainda assim, haveria ela
de transformar qualquer mapa em esboço,
qualquer acúmulo em dádiva

No oceano de corpos em órbita
ela conduzia os rumos movediços dos dias,
o mar latejante das horas, o mar
sem início ou fim, o jasmim
da palavra jamais

("Máquina de fazer mar" – 2016 – AGC)

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