quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cidade

Colocar um nome nas coisas seria colocar etiquetas com seus preços. A poesia das cidades não classifica as coisas. É o poema da ausência de artigos, a polidez do frágil, cemitério de céus sem nuvens. Venha ver os pincéis invisíveis formarem seus haikais de propagandas. Venha ser visto pela televisão (espelho invertido), venha ver a instabilidade. Venha ver a história jogar pela vidraça todas as suas nuvens de chumbo.

Cabeças humanas com etiquetas passeiam expandidas por espaços absurdamente vermelhos. O sonho coletivo é a cidade, o filme absoluto, a grande partitura.

Vem, vem jogar areia no meu passado. Vem, vamos mudar todas as placas de trânsito do lugar. São as nossas quatro asas contra o resto do mundo, são quatro asas nossas nestas esquinas de pedra. E você meu amor, se despe toda vestida de engarrafamento, acelera.

As fichas se acabaram, os orelhões dos deuses estão ocupados. Cidade das auroras em slow-motion; cidade dos olhos de aquário. A cidade é a grande igreja com suas chuvas de janelas escorrendo pelos galhos das tuas mãos. Flores nascem dos bueiros das calçadas rolantes. Andamos pelo resto da vida nesta procissão desiludida.

Para os parques do amanhecer caminhamos desde sempre. Pisamos por ilhas chuvosas, todas são luzes novas nos olhos velhos. Naquela avenida estará minha estátua desde sempre. Nenhum anjo irá nos corromper.

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