quarta-feira, 28 de setembro de 2016

A lua depois da lua (2010)


Passamos todos os carnavais dormindo?
Para onde vai a lua depois da lua?

Mesmo que uma pedra seja atada nas prateleiras sanguíneas,
ainda assim, principalmente assim, este livro continuará a ser escrito
– nos mapas da pele e nos silêncios em manutenção,
com letras de raios e margens de sombras; livro de sombras

Nas páginas de gelo e nas bordas sagradas, um livro seguirá a ser inscrito
em planetas de disfarces e em igrejas de neon,
nas flâmulas em chamas e nas bandeiras em fogo
– um livro com letras d’água –
em letreiros de obras e na lua depois da lua;
flutuantes alvos de aquários intermináveis

Vitrines anunciam rubras lâminas de morfina
Um sol noturno faiscou como um caça-níquel de sombras
Pétalas chovem sobre os cardiologistas
Poetas selvagemente domesticados discorrem que
o único metrônomo possível é o desassombro do coração
– a primavera naftalina,
a paz de um velho mestre do blues

Somos todos parteiros de dilúvios,
morcegos num clarão de ruínas,
desastronautas e eternautas,
lixeiro de diamantes procurando por hospitais

Os tigres cravaram as garras no horizonte,
mas a aurora é de calma;
outros eclipses virão

Cidades caem, mas permanecem as flores;
primaveras crescem por si só


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