quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Já dizia 1 velho ditado búlgaro: "O homem que acha a sua pátria agradável não passa de um jovem principiante; aquele para quem todo solo é como o seu próprio já está forte; mas só é exato aquele para quem o mundo inteiro é como um país estrangeiro".
Não podemos mais invocar, para estender uma ponte entre continentes que se afastam tanto uns dos outros; quem constrói a ponte não conhece o lado de lá. O nadador não tem outra saída senão construir uma balsa com os ossos destes deuses e sobreviver. Na verdade, a linha que separa os países abstratos dos países ditos reais só pode ser traçado no útero de uma teoria selvagem, mas talvez este não seja um romance para as carpideiras de plantão e nem muito menos um romance refém da lógica dos territórios: os mapas também mentem, principalmente eles. É aqui onde um poeta exprimirá seu desejo de ser um rio, não um rio fechado em duas margens, mas um rio com seus cavalos selvagens. Como se suas ilhas se transformassem em arquipélagos e depois em continentes, aqui nos chega Campos de Carvalho a bradar: "Até um relógio parado tem razão duas vezes ao dia. Eu quero a liberdade tátil de uma criança".
É aqui onde um poeta exprimirá seu desejo de ser um rio, não um rio fechado em duas margens, mas um rio com seus cavalos mais selvagens. A solidão é um cartão postal. Quanto mais se vive, menos se morre.
Não podemos mais invocar, para estender uma ponte entre continentes que se afastam um do outro; quem constrói a ponte não conhece o lado de lá. Vivemos uma mudança permanente que dissolve os deuses como se fossem bancos de areia. O nadador não tem outra saída senão construir uma balsa com os ossos destes deuses e sobreviver. Na verdade, a linha que separa os países abstratos dos países ditos reais só pode ser traçado no útero de uma teoria, mas talvez este não seja um romance para as carpideiras de plantão e nem muito menos um romance refém da lógica dos territórios: os mapas também mentem. O homem que acha a sua pátria agradável não passa de um jovem principiante; aquele para quem todo solo é como o seu próprio já está forte; mas só é exato aquele para quem o mundo inteiro é como um país estrangeiro. Quanto mais se vive, menos se morre.
("Fui à Bulgária procurar por Campos de Carvalho", 2012, 7Letras)

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