domingo, 3 de junho de 2012

isto não é uma antologia


“A van guarda e leva o passageiro” (Bruna Beber)



Poetas enclausurados em suas ilhas mandavam piscadelas para a crítica. Jornais tomavam como dado uma suposta “geração OO” em poesia, como quem procurasse o que dois zeros somados poderiam significar. Enquanto isso, em todo momento meu primo dizia: “contar com a posteridade é como contar com a polícia.” Enquanto isso não paravam de vir ao mundo os supermercados de antologias. Pavões se pavoneavam pela chuva de outros cabelos. Alpinistas sociais se apressavam. A realidade era patrocinada por deuses em pó. Do outro lado, nós nem notávamos toda essa bradaria. As etiquetas já não faziam sentido nenhum. Na aspereza de um móbile moldávamos a nossa sintaxe de neons. No véu dos olhos, nos luminosos apagados, nas lágrimas de um ar condicionado. Guardávamos tanta beleza dentro de nós que ainda tínhamos combustível suficiente para no mínimo mais algumas inflamáveis eternidades. Éramos astronautas percorrendo o meio-fio. A galáxia era só uma moldura. Ipanema brilhava de noite. O céu invadia os planetários. Bandeira até dançava um fox-trot.

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