segunda-feira, 28 de novembro de 2016

MÁQUINA DE FAZER MAR

Agora, neste tempo, após 6 anos do meu último livro de poemas, finalmente sairá o terceiro – “Máquina de fazer mar". O lançamento será no próximo dia 5 de dezembro (1 segunda-feira) na livraria da 7Letras em Ipanema. A ilustração da capa é do Roberto Magalhães e a orelha do Paulo Henriques Britto. Esta é a primeira chamada para o lançamento; estão todos convidados.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A eficácia dos tigres é vir ao mundo de onde menos se espera, ou de um escuro tão fundo que nenhum blecaute sonha alcançar. Os tigres necessitam da noite para se preencherem, suas garras apontam para a lua. Tudo que é noite traz seu prenúncio de tigre. Tudo que transborda traz sua ameaça de tigre. Tigres são sacralizáveis, pessoas nem sempre. Tigres eternizados andam depois da tenebrosa. Tigres pisam livres pelos arredores dos prédios anônimos. Um tigre salta para dentro do tempo. Tigres não toleram sofredores. Tigres não carregam a poeira dos séculos. Os tigres reinventam a vida todos os dias.

Os tigres são contra o charme luminoso da objetividade e do equilíbrio, do rigor e da lucidez. Os tigres são pelas estruturas vivas pingando sangue. Os tigres degolam os objetos úteis com tremenda precisão. Os tigres votam pela beleza e a delicadeza dos acidentes. Os tigres sabem que toda rua pende frágil como uma metáfora. Os tigres acreditam no sexo matemático das coisas. Os tigres irão cravar as garras no horizonte quando menos se esperar. Abrigar um tigre é como flutuar à deriva sem sair do lugar. É como se sentir desplumado, espectador sem espetáculo, desastrado sem desastre, computador sem dor alguma para computar. Enquanto sobrevivemos eles cavam o ar, prósperos e acessíveis. E quando os tigres invadem as cidades, será que são eles que se humanizam, ou na realidade é a humanidade que se tigrifica?

Quando os grandes prédios dormem. Nas sombras das estátuas; a incerteza é a religião dos tigres. Mas, e o que foi feito das manchas solares? E quantos sonhos vermelhos sustentados por estas garras? Tigres desmoronados atravessam as galáxias. Este é o lugar onde os planetas nascem ao contrário. Raio sem trovão, precipício sem margem, náufrago sem destroços, âncora sem mar. Quando os grandes prédios dormem. Seguir um tigre é como estilhaçar espelhos e não morrer. Não vos admireis se tigres se deitarem na selva de vossos pés. Tigres perpétuos andam soltos pelas jaulas das ruas.

(AGC - 2010)




A eficácia dos tigres é vir ao mundo de onde menos se espera, ou de um escuro tão fundo que nenhum blecaute sonha alcançar. Os tigres necessitam da noite para se preencherem, suas garras apontam para a lua. Tudo que é noite traz seu prenúncio de tigre. Tudo que transborda traz sua ameaça de tigre. Tigres são sacralizáveis, pessoas não. Tigres eternizados andam depois da tenebrosa. Tigres pisam livres pelos arredores dos prédios anônimos. Um tigre salta para dentro do tempo. Tigres não toleram sofredores. Tigres não carregam a poeira dos séculos. Os tigres reinventam a vida todos os dias.

Os tigres são contra o charme luminoso da objetividade e do equilíbrio, do rigor e da lucidez. Os tigres são pelas estruturas vivas pingando sangue. Os tigres degolam os objetos úteis com tremenda precisão. Os tigres votam pela beleza e a delicadeza dos acidentes. Os tigres sabem que toda rua pende frágil como uma metáfora. Os tigres acreditam no sexo matemático das coisas. Os tigres irão cravar as garras no horizonte quando menos se esperar. Abrigar um tigre é como flutuar à deriva sem sair do lugar. É como se sentir desplumado, espectador sem espetáculo, desastrado sem desastre, computador sem dor alguma para computar. Enquanto sobrevivemos eles cavam o ar, prósperos e acessíveis. E quando os tigres invadem as cidades, será que são eles que se humanizam, ou na realidade é a humanidade que se tigrifica?

Quando os grandes prédios dormem. Nas sombras das estátuas; a incerteza é a religião dos tigres. Mas, e o que foi feito das manchas solares? E quantos sonhos vermelhos sustentados por estas garras? Tigres desmoronados atravessam as galáxias. Este é o lugar onde os planetas nascem ao contrário. Raio sem trovão, precipício sem margem, náufrago sem destroços, âncora sem mar. Quando os grandes prédios dormem. Seguir um tigre é como estilhaçar espelhos e não morrer. Não vos admireis se tigres se deitarem na selva de vossos pés. Tigres perpétuos andam soltos pelas jaulas das ruas.

(AGC - 2010)




quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Não somos senão um breviário que nos vêm do infinito do finito do tempo
Ruas são como poéticas em ato, metralhadoras consumidas por cronômetros consumados de loterias em primavera
Cidades são hospícios ao céu aberto, pequenos museus de desmaio
Uma rua se transmuda numa maré secreta de fome e espasmo
Uma rua existe como um rumor, puro ruído de raro observar
Brilham os cimentos dos vencidos: a cidade de cal e sonho envolve a noite numa trapaça – escritas do amanhã talhadas nos ladrilhos do agora
Um sol escuro ilumina os asfaltos cardíacos
A lua mais parece um sorriso de gato
Cães envelhecem pelas esquinas
Poetas seguem a procurar por girassóis em todos os bueiros das ruas

Navalhas sustentam ossos de mel e de breu
Deuses seguem a forjar seus próprios destinos
Pelos cimentos febris prédios vão crescendo em cada músculo
da paisagem desdentada
(Uma rua se funde em outra, o asfalto se funde em rua, ruas se fundem aos avisos luminosos da rua do mundo)

Agora todos nossos nomes já foram apagados dos muros da cidade
Que todo escuro seja tela,
que todo entardecer seja pólen,
que todo beijo seja dodecafônico,
que todos os túneis sejam atravessáveis a pé

Mesmo que uma pedra seja atada nas prateleiras de sangue, ainda assim, principalmente assim, este livro continuará a ser escrito:
Nos mapas da pele e nos silêncios em manutenção,
com letras de raios e margens de sombras,
livro de sombras com letras d’água
Nas páginas de gelo e nas bordas sagradas, este livro seguirá a ser
inscrito em planetas de disfarces e em igrejas de neons,
nas flâmulas em chama e nas bandeiras em fogo,
nos letreiros das obras e no findar das tardes
– flutuantes alvos por piscinas intermináveis

(AGC – 2010)

Em cada leveza, um risco
para o grande girassol todo relógio há de um dia engasgar

Manhã violenta violeta
a lua de dentro de uma orelha

Um sábado de sol num playground em Copacabana
alguém sai do inferno assim como quem sai de um banho de mar]

Esquinas espreitam pelas venezianas
e jornais cospem notícias
– todas as cidades são subjetivas

Cansado de correr pelas maquetes da vida
– os aeroportos não cabem nas telas,
os sonhos não cabem nos cofres

De uma cor suave é a distância
– a janela é só espelho e no avesso dela não atravessa nada?

Um túnel surge dentro de outro túnel,
pedras lusitanas rolam por calçadas de tom grafite

Chafarizes lavam as almas,
mas os mendigos continuam sujos

Pluma poema televisão
o homem não afunda na lua do chão

Caiu do décimo andar e foi beber um chope ali na esquina
Mas, como dizer as coisas simples?

(AGC, 2010)


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

TRUMP FASHION WEEK


É como se Cortez, Vespúcio, Américo ou Colombo filmassem tudo. A lua dos românticos virou a lua desastrada dos astronautas. Será fácil ver esse comercial em sua televisão de dor? Lanchonetes servirão mundialmente hambúrgueres de sonhos por pulsos de ketchup. Mais geral será o design sensorial de Andy Warhol com seus móveis flutuantes de gás de hélio e barbantes para serem puxados quando se quiser trazê-los ao chão. Call me Helium. Osho Oxumaré dançará pelas discotecas sem teto do mundo. Um rio fluirá sagrado no filme. Tudo é possível na América.
Quantas vezes você já foi ao inferno neste mês? Faça amizade com sua cidade, abrace um paralelepípedo e beije um edifício, traga a iluminação urbana até você. Não perca tempo. Prove um apartamento estupidamente iluminado. Tire o telefone do gancho e derrote Graham Bell. Seja tão verde quanto uma árvore, pulse, pulse e pulse.... Desfrute da tristeza como um dropes. Pule na margem feminina e produza eternidade. Obesos caminharão lentamente como mulheres grávidas: lindamente intoxicado, o útero dos americanos será o útero mais bonito da vida. A AmorAmérica Airlines mostrará que o avião está dentro de você. E Shiva gritará gol, ou melhor, touchdown!!!!!!!

E agora uma pausa para o intervalo comercial: E então, vamos fumar? Você pode até meditar fumando um cigarro lendário do maior fumante iogue do mundo em sua ioga para os pulmões. A cerimônia linda da fumaça celebrará deus em forma de fumaça, afinal, existem coisas que só o Oriente faz por você. Toda vez que o cowboy da Marlboro aparecer nos intervalos comerciais, um Krishina soltará sua baforada de uma fumaça que desabrochará como uma flor. A cada baforada, uma nova iluminação. Fume no mamilo do cigarro e sinta a benção de leite sutil, volte a ser uma criança amamentada pela nicotina e comece a conversar com os deuses num seio de leite morno de fumaça. O cigarro é o único mamilo que o homem moderno pode ter, brinde com ele e deixe que os cowboys façam o resto nos intervalos comerciais. Seja simpatizante do mel da nicotina celestial Ca-mel. Os cigarros serão seus convidados maternos especiais, celebre a beleza desses dias venenosos. Seja simultâneo na sombra, use o método budista do “dentro/fora”, esteja aberto no intervalo, respire o invisível, sinta o soco que acaba de beijar seu queixo e agradeça pela oportunidade de testemunhar a ferida escondida em você.

Telas se acenderão nas prateleiras da rua. Anjos mais existirão nas chuvas amargas. Anúncios brilharão por viadutos chuvosos. Como os Estados Unidos protestantes da América não possuem santos, nós emprestamos os nossos santos de macumba e candomblé para formar o grande terreiro yankee criado pelos Sete Novos. Ou alguém nega que mesmo os protestantes entram em transe? Marthin Luther King entrou, tantas e tantas vezes, assim como Jimi Hendrix de lá nunca saiu. Call me Helium.
AmorAmérica: um pavor carinhoso, um assombro coberto de amor. Agradeça a barbie e.e. cummings por cada instrução lacrimal. A banana de Andy Wahrol entupiu a goela de Carmen Miranda. Cada poro transpira sua beleza poluída de oceano. Celebre a beleza desses dias venenosos.

As técnicas de vanguarda como a colagem e a bricolagem foram substituídas pelas fascinantes experiências de jardinagem, e é por isso mesmo que o vanguardista Tom Zé as pratica e faz um sucesso tremendo em Manhattan, chamada de Manhatã pelos mais íntimos. Os mercados oferecem vírus orgânicos para serem consumidos pela civilização das felicidades em liquidação. Nesse presente recreativo o que nos resta é bailar aos sons das rajadas de tiros biodegradáveis e retiros dançantes. Um cavalo de ogum monta guarda na NASA. Com o famoso kipá texano, George Bush come sua pipoca de nuvens. Poemas de Maiakovski logo serão vendidos nas lojas de conveniência. Marylin Monroe deglutida pelo caos. Cada poro transpirará sua beleza poluída de oceano. Novos heróis apodrecerão no vento. Graham Bell matará novamente a telepatia. Enquanto isso a mulher mais triste do mundo abrirá suas janelas para chorar seus horrores.

Diferente de 1929, na semana de arte moderna de Wall Street, Mário e Oswald não pensaram em se matar. No mundo das máquinas e dos sons nós somos another brick in the wall of lamentações street. E sobe a trilha, Vangelis! Do stock market operators dream with eletric sheeps? Como o suicídio não faz parte do corolário (Colorado?) e dos bons modos da semana de arte pós-moderna de wall street, a nostalgia de cataclismos (classicismos?) logo estará sendo vendida na gift shop da ONU. Você já experimentou o Well War State? Já foi a Wall Street? Não?! Sousândrade já! Lá ele viu o inferno por semióticas esquinas semiótimas geladas, desbancando a teoria de que o inferno é quente como os trópicos ou triste como a Bahia, ó quão dessemelhante. Vamos fazer uma apologia do calor. Dante pouco entendeu do nono círculo do inferno: se os trópicos são quentes e o calor tem a ver com o pecado, melhor tomar uma vacina de imunização racional contra a síndrome de Dow, Jones! E Nelsinho Rodrigues avisou: em plena Wall Street Sousândrade experimentou uma dilacerada nostalgia do subdesenvolvimento brasileiro. Até as máquinas eram mais tratáveis e sensíveis do que o frio angelical nova-iorquino. E o touro de Wall Street sodomizou todas as vacas da Cow Parade. Bovespa Fashion Week: Totem ou Tabu.

(BOVESPA FASHION WEEK in: AMORAMERICA, 2008, OS SETE NOVOS)

Estados Unidos do Tédio.
Bandeiras invisíveis ajudarão a raiar o teu novo dia.
E já não importará mais em que mundo se irá nascer,
em que pulso se irá pulsar,
em que telhado de zinco o sol irá caber.
Cada falso herói flutuará no meridiano de um elástico devorar,
no paraíso extemporâneo de centelhas acinzentadas e sereias acidentadas.

Mas, e teus museus de radiação?
Estados Unidos da Ilusão.
O rinoceronte de Ionesco que tanto esperamos talvez esteja em nós mesmos, nos próprios espelhos invertidos de esperanças insensíveis.
Não hesitemos; fechemos os olhos para ver a poeira dos anjos.
O cotidiano está sempre atrasado.
Para uma salvação sem santos – o silêncio visual.

Pessoas – altares vivos – veneram a senhora dos disfarces.
Amante da ação, a deusa EUÁ irá deglutir a noite no próximo intervalo comercial.
Há quem confirme que a senhora da invisibilidade virá para implantar o dia do vermelho, azul e branco em todos os terreiros da confederação.
A senhora dos venenos, há quem diga, virá para ressuscitar ruínas.
Suas estrelas serão da mais alta estirpe em matéria de coação.

Falsos poetas da guerra serão os únicos possíveis nesse imenso poema talhado no céu aberto de um efeito poético poluído de sermão.
Sua guerra será parte do lacrimejar de arquiteturas feitas com fumaça e suor.
De Novalis ao Novo México.
Das granadas de cicuta aos inventários urbanos: a realidade sem loucura ou prostituição.
E a poeira dos anjos será nossa migalha permanente contra a imanência da televisão.
Nada é concreto até que desapareça.


(MENSAGEM AOS POETAS DA GUERRA – AMORAMÉRICA, 2008)



ESTADOS UNIDOS DA VERTIGEM

Estados Unidos da Vertigem. Nostálgicos somos nós no meio de um cimento de transcendentes trânsitos. Ruínas e mares altos de areia faíscam nas tempestades; passos de surpresa no precipício da tela. A hot-colored concretism brilha pelos diamantes desafinados das unhas. Afogamos nossas sombras na grande América mãe 66. Seus deuses renascem um a um.
Só acreditamos nos homens que choram. Labirintos de anjos decaídos nos gritam no deserto de silk screens seus riffs de lamentações por beijos soprados. Jazzy crazy keys ecoam no meio-fio de nossas sedes. Ladrões noturnos de belezas procuram as novidades velhas nos jornais: love and theft, amor e roubo.
Essas as freeways siderais de que fala Jean Baudrillard. Esse o cogumelo de Buffalo reinventando o xamanismo: Bumba meu Bull. Esses os pré-modernos inventando o samba – o maneirismo pré-atômico de Tupac Shakur. A tropicália democrática de Cruz & Sousa e Padre Antônio Vieira.
Estrelas explodem pela boca, América. América, tudo porque ainda esperamos pelo dia em que seremos cósmicos. América, reunidos pela vertigem. Que Flash Gordon e Little Richard nos saúdem por sorrisos totêmicos rockin around the universe. Because we have visions instead of televisions.
As fronteiras não dizem tudo que poderiam dizer. Em Sunset Boulevard as línguas das telas de sangue projetam midwests de julgamentos: América e seus mitos em conserva. Compre sua hóstia descartável no hipermercado da cura e veja seus mitos decaindo um a um. Estados Unidos da Vertigem, seus deuses também morrem pelos sinais do corpo. Delicadezas flutuam, e por que não haveriam de flutuar?
Oh, diga, você vê na luz da aurora o que saudamos com orgulho no brilho do crepúsculo? / Esta é a bandeira estrelada! Que ela drapeje sobre a terra dos livres e dos homens valentes. / Conquistar é preciso, quando a causa é justa, e esse é nosso lema: Deus seja louvado! / A chama dos mísseis a brilhar, as bombas rompendo o ar, nos provaram, durante a noite, que nossa bandeira ainda estava lá.

(in: AMORAMÉRICA, OS SETE NOVOS, 2008)