quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Novo mundo

Te deixo aqui como uma estátua terminada. Em sua tecnologia sonhada, a poética do concreto nos despeja três mil anos de Dionísio para serem devorados. O peso nos deixou levíssimos demais....a escuridão nos luziu. Os encarcerados do filme olham e nada entendem, já não conseguem mais escapar. Te alago no cimento. Te seco nesse mar.

O cinismo é a sabedoria dos vencedores; pura estátua nos ponteiros de carne. Como órfãos da tempestade, cada planeta carrega o nome de sua pele, cada placenta traz sua casca gravada na viva cal das plumagens do cabelo. Deuses dementes não deixam a cidade dormir. Nossas margens se derretem na nébula do cotidiano. Duraremos pelas esquinas, no transe solar de engenharias amplificadas por guitarras dissonantes de vazio, na solidariedade de dois abismos. O engenheiro quer abolir a noite, mas nenhum engenheiro jamais abolirá o fato de que a localização poética soterrará a localização geográfica.

Eu te agradeço Spielberg pelo lixo de cada dia, eu te agradeço Spielberg pelo caos portátil. Meus sonhos foram sepultados em 1972, e eu não era nem nascido. Nasci sobre as ruínas de um mundo imaculado, nada me pertence mas eu desconfio que o mundo atual seja bem melhor. Carregando esse vídeo game estúpido dentro do peito, nasci com uma máquina de fazer inferno e de fazer poesia. Eu te agradeço Spielberg por tudo. Eu te agradeço Spielberg mesmo assim por tanta ilusão. Desconfio das idéias,sei que todo poema é uma navalha.

Vamos caminhar depois do tiroteio? O blecaute nos iluminou. O novo mundo é bem bonito nas telas da cidade.


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