quarta-feira, 8 de novembro de 2017

O PRIMEIRO MAPA DO MUNDO

A imobilidade movente do mar,
paisagens recém traçadas pelo vento
Ângulos habitáveis,
estrelas que sangram para brilhar

Corpos verbais e verbos de carne,
objetos ainda não cicatrizados por seus nomes
A pluma que corta,
o deserto calculado de vazio

A falsa distância entre o diamante e o carvão,
traços sinuosos que o mar apaga
pequenos cadáveres da memória,
corações ligados por cordas

– Raras são as âncoras que conseguem fincar suas asas no ar, poucos os móbiles perpétuos a flutuar

Palavras sem dicionários furam o véu do real,
um novo diamante é arrancado do abismo,
flores radioativas brilham com um estranho rigor

A pedra trabalhada como se fosse carne,
a menor rocha para a maior pluma,
a máscara que não se deixa domesticar

O azul arde nas bordas,
num tatear de nomes perdidos e línguas
sem asas
O peso flutua e a pluma pesa,
as placas pedem desvio

A cartografia de seus passos contém as origens da tempestade
Seu peito possui barulho de mar
Seus lábios carregam a arte de dançar até a incandescência
da dúvida

Pela chuva contida em sua face de sol;
letreiros luminosos anunciam a primavera

– O mar se estica de ponta a ponta e encontra sua medida;
o mar sempre recomeça; o mar escreve sempre no plural


["O primeiro mapa do mundo" In: Máquina de fazer mar, 7Letras, 2016, AGC]


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