sexta-feira, 7 de outubro de 2016

No chão do meio-fio faísca o tigre da linguagem
– seria o tigre da palavra, apenas palavra, sem rugir?
mundo, quais os mapas te prendem?
como tolerar o cemitério dos telefones, os sábados de poeira?
mundo, que janela te desaba?
quem poderia negar seus revólveres de olhos azuis?

A lua mais parece um sorriso sem gato,
heróis envelhecem pela esquina
puros desenhos de edifícios arranham os céus
– um homem com etiqueta de homem se comunica
através da linguagem das flores
estruturas são regurgitadas por gargantas de lâmina;
imagens são feridas pelo cinema

Tudo pode ser combustível para os pássaros solitários
que dançam e dançam e dançam
– pessoas adoram dançar no escuro
cada um aguenta a lua que pode
sempre as mesmas estrelas para os mesmos estômagos
tantos túneis se perdem na cidade

mas, seria o desabrochar de um edifício tão eficaz quanto a engenharia de uma flor?
– todo índice, um símbolo
à cada filme, uma caverna
todo artifício, um pequeno milagre

Cidades são traçadas,
mas arquitetos regurgitam gotas de chuva;
os heróis já podem se retirar

(“Os mapas” – AGC – Os tigres cravaram as garras no horizonte [2010])

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