domingo, 26 de janeiro de 2014

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

índios, futebóis & afins

Nunca fui muito de blog, mas resolvi me comprometer a escrever ao menos 1 vez por mês
para ver no que dava. Em ano de Copa do Mundo em nosso território & final no Rio seria quase impossível ficar impassível diante de tanta coisa acontecendo ao redor; ainda + eu gostando do ludopédio bretão. Bom, ainda sobre nomes indígenas, aqui vai 1 lista com jogadores de nomes de origens indígenas: Peri, Tupãzinho, Índio, Aimoré, Muricy, mas devem haver  muitos outros. Também estava pensando que temos 1 vasta zoologia/animália de jogadores com nomes de animais no futebol de Pindorama: Aranha, Alexandre Pato, Rodrigo Tiuí, Cláudio e Régis Pittbull, Donizete Pantera, Neto Coruja, Flávio Caça-Rato, Rafael Ratão. Eduardo Ratinho, Mosquito, Bruno Sabiá, Júnior Urso, Paulo Henriques Ganso e outros. O que + me intrigou refletindo sobre o Gavião Kyikatejê foi descobrir que Itaú é também 1 nome indígena. Enfim, pesquisando + descobri reportagens sobre os Kyikatejê que mostram que quando entra em campo, com os corpos pintados com o rubro urucum e o preto genipapo, representa os cerca de 15 mil indígenas do Pará, que perfazem 1 parcela de 0,20 % da população do Estado; a média brasileira de indígenas deve assemelhar-se. Desde a chegada de Pedro Álvares Cabral à terra de Santa Cruz, que o presidente Kyikatejê, Zeca Gavião, chama de invasão, o povo nativo tem sofrido toda sorte de infortúnios. Sua meta é invadir a brasilidade representativa do futebol e mostrar que a cultura indígena ainda agoniza, mas tem sua voz. Além da etnia Gavião, a equipe recebe índios Kajapó, Xikrim, Karajá, entre outros. Viajarei literalmente/geograficamente, mas no meio da semana que vem estarei de novo escrevendo aqui sobre futebol & afins.




Gavião Kyikatejê

Saiu semana passada na mídia impressa a estória & história de 1 time indígena do Pará que é a primeira equipe/agremiação indígena a chegar à primeira divisão de um estadual no Brasil. Resolvi pesquisar elogo me lembrei do Guarani de Campinas que tem como índio 1 de seus mascotes e o Colo-Colo do Chile possui 1 cacique em seu escudo; também o nome Maracanã é indígena; o Washington Redskins de futebol americano também tem 1 cacique como símbolo em um país em que o lema já foi "índio bom é índio morto"; completam a lista da NFL o Atlanta Braves e o Cleveland Indians. Também existem os gaúchos Guarani de Bagé e o Aimoré de São Leopoldo. No entanto, tais referências indígenas esportivas são pouquíssimas para 1 continente que foi colonizado por europeus que dizimaram nossos habitantes ancestrais americanos. Mesmo assim, não deixa de ser interessante o caso ocorrido no Pará. O nome do time formado por uma tribo é Gavião Kyikatejê, agremiação responsável por 1 mar de lembranças sobre como os índios deveriam ter sido melhores integrados (ou no mínimo respeitados) pela sociedade brasileira. A empreitada no Pará surgiu em 2009 com o intuito, segundo Zeca Gavião (presidente), de promover ' inclusão pela prática do esporte, fazendo com que a tribo Kyikatejê – no distrito de Bom Jesus do Tocantins, distante cerca de 580 quilômetros de Belém – experimentasse o ludopédio bretão. O elenco da equipe é formado agora de só 4 jogadores de origens indígenas que jogam pintados e caracterizados, como o meio-campo Waitwai e o atacante artilheiro Aru que veste um cocar. Um zagueiro do time chamado Max Melo contou que foi integrado ao time aprendendo práticas indígenas com seus companheiros, como a caça. O clube Gavião Kyikatejê localiza-se na aldeia homônima, cujo nome significa "povo do rio acima". A denominação gavião vem das penas da ave usada em suas flechas. Em pleno século XXI, o clube propõe-se a propagar sua cultura. Bela história em um continente devastado. Na torcida do Gavião há uma incomum inversão estrutural em um esporte ainda machista como o futebol: são as torcedoras indígenas que gritam e entoam gritos enquanto os homens ficam mais contidos e mais tensos. Apenas 3 jogadores moram na aldeia perto de Marabá. Mas alguns até casaram com indígenas e já foram integrados à tribo.Se formos pensar também muitos nomes comuns em nossa cultura pertencem à tradição indígena, como: Anchieta, Cauã, Cauby, Iberê, Ubirajara, Moacir, Muricy, Peri, Raoni, Ubiratã. Aracy, Iara, Inaiá, Iracema, Ivair, Itaú, Jacira, Janaína, Jandira, Jandir, Juçara, Jurema, Maiara, Maíra, Moema, Tainá. Sobrenomes como: Bocaiúva, Capanema, Guará, Guaraná, Ipanema, Ipiranga, Jaguaribe, Jatobá, Juruna, Macunaíma (aquele que trabalha durante a noite), Maranhão, Murici, Oiticica, Paranaguá, Paraguaçú, Pirajá, Pirassununga, Pitanga, Raoni (grande guerreiro), Rudá (divindade do amor), Saraíba, Tabajara, Tapajós, Tupã (progenitor), Tupinambá, Ubiraci, Ubirajara (senhor da lança). Na cultura norte-americana também há resquícios como Dakota (nome de um estado estadounidense que significa "amigo" em cultura indígena). A fugitiva e solvente moral da história, aqui, no caso do Gavião Kyikatejê é que o projeto iniciou-se como um meio de integração dos índios à sociedade "civilizada" dos brasileiros e, agora, com o sucesso esportivo, virou 1 meio de divulgação da cultura indígena futebolisticamente; ao menos é isso que pretende o presidente indígena do clube chamado Zeca Gavião. It's wait and see. Aqui informações para antropólogos e afins: os Kyikatejê-gavião são 1 povo indígena do grupo Gavião do Oeste cuja língua é o timbira oriental da família Jê. Também são conhecidos como "Koykateyê" e "Gavião Kyikatejê".Em 2010 perfaziam aproximadamente 320 índios que viviam na terra indígena Mãe Maria. Uma de suas maiores tradições é a corrida de toras: as equipes de revezamento (formada somente por homens), carregam troncos de buriti nos ombros. O mais importante não é quem chega primeiro, o que vale mais é o divertimento. A comemoração é maior quando as equipes chegam juntas ou quase juntas. Em 2013 ocorreu a proposta governamental de criação de 1 seleção indígena nacional. Acho 1 pouco ufanista, mas pode ter efeitos midiáticos da causa e certamente o artilheiro Aru do Gavião Kyikatejê seria nossa maior estrela...Vale a pena observar os métodos pouco ortodoxos de preparação na tribo da equipe: corrida com toras por quilômetros de distância e a caçada ajudam a criar resistência nos jogadores. Para aprimorar os reflexos um membro da comissão é equipado com arco e flecha. O técnico atira as flechas e, meio no susto e reflexo, os jogadores têm de desviar. Na ponta da flecha amarra-se a imbira para diminuir a contundência. Este é um excelente preparo de goleiros. Se algum jogador conseguir desviar das 5 flechas assume o lugar de quem estava atirando. O segredo aí é ficar de lado para tentar desviar e ter velocidade o suficiente, garante Zeca Gavião. Isto sim é pré-temporada! Não sou antropólogo radical ao ponto de pensar que índio modernizado jogando futebol não é mais índio; a cultura, a meu ver, pode ser mantida contanto que constantemente realimentada. Somente a vestimenta não garante o ritual. É preciso ter um élan vital, um mana, algo encarnado.






quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Dia búlgaro da epifania






Em grego epifania significa "manifestação" e para os cristãos refere-se ao momento em que Cristo, nascido dias antes, se manifesta e se revela aos Reis Magos, vindos do Oriente. Anteontem cristãos ortodoxos búlgaros enfrentaram o frio do inverno búlgaro para dançar nas águas geladas do Rio Tundzha em Kalofer. Tudo em nome da tradição: no chamado Dia da Epifania. Um padre joga uma cruz dentro do rio. Acredita-se que aquele que a encontrar terá saúde durante todo o ano que se inicia. Também há uma ligação intrínseca com o batismo e, na Bulgária, celebra-se também a bandeira de tão insólito país. Aqui, belas fotos (não menos fantásticas) do evento. Desejamos atrasado 1 bom Dia da Epifania para búlgaros e búlgaras pequeno notáveis tais como Radamés Stepanovicinsky, Tzvetan Todorov, Histo Stoichkov, Julia Kristeva, Brigitta Bulgari, o pirotécnico Letchkov, Dilma Rousseff e tantos e tantos outros que aqui não caberiam. Que todos os dias sejam epifânicos na Bulgária!


quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

“Fui à Bulgária procurar Campos de Carvalho”, por Radamés Stepanovicinsky



“Fui à Bulgária procurar Campos de Carvalho”, 
por Radamés Stepanovicinsky 

Este não é um romance adocicado para carpideiras de plantão. Sob a chuva imóvel deste nosso tempo, o escritor Augusto Guimaraens Cavalcanti (e também seus muitos outros tantos “eus”) resolveu visitar as mais insólitas paisagens nunca dantes imaginadas; sua expedição geográfica-existencial é personificada pelo misterioso nome “Bulgária”. O nome do livro é “Fui à Bulgária procurar por Campos de Carvalho” (7Letras, 2012), que chega agora à sua segunda edição em 2013. Em um artigo crítico sobre tal livro aqui referido, José Castello preferiu, antes de proferir textualmente suas palavras, certificar-se de que a lua não iria cair-lhe bem no meio da cabeça. Depois de tal compreensível certificação, Castello escreveu que a queda da Lua sobre a terra, apesar da força gravitacional que a sustenta, é uma hipótese que ainda se apóia na fertilidade dos mitos. De tanto sobreviver a naufrágios, o ser humano, este ser da ficção, eterno sonhador e construtor, cria e recria a todos instantes muitas verdades em estado latente. Não, o mar não têm cabelos por onde se segurar, por isso mesmo é bom saber que o maior naufrágio seria não partir. Partamos novamente para a Bulgária através de “Fui à Bulgária”: trata-se de um livro potencialmente intertextual e construído por invenções em ruínas de construções. Aqui o chão é flutuante e as aspas entram em estado festivo de decomposição; aqui o chão mais parece uma cratera lunar pronta para ser pisada e repisada pelos mais diferentes tipos de lunáticos que quiserem ler tal livro. Portariam os búlgaros a sombra do mundo? Viria mesmo a Lua da Ásia? A Ásia da Lua? Seria a Bulgária um país para além dos espelhos?
Bulgária, terra de alusões. Seriam os búlgaros pessoas-aves ou seres tão sensíveis, delicados e acidentais quanto os cronópios de Júlio Cortázar? O que me parece mais auspicioso neste “Fui à Bulgária” é que a cidade de Sófia é uma das personagens principais da aventura, junto com Campos de Carvalho, aquele que substancializou o ocasional, o criador de praticamente todo mistério búlgaro do século XX. Também a realidade táctil e visível deste livro é composta com ajuda de Histo Stoichkov, o atacante búlgaro que, na Copa de 94, vestia o número 8 a encarnar e representar o símbolo do infinito; assim como infinito também parece ser o desejo búlgaro de que tal país seja, finalmente e definitivamente, reconhecido mundialmente como uma ferida que acaba de cicatrizar com a ajuda de novos mapas e das mais recentes cartas de navegação.  Desafiamos a lógica a cada dia que acordamos. Em pleno século XIX, o Brasil é governado pela filha de um búlgaro. Também arquéologos contemporâneos britânicos descobriram, financiados pela National Geographic, fósseis búlgaros que são, aparentemente, os mais antigos de todo o continente Europeu. Portanto, Campos de Carvalho estava certo. Agora nós temos uma situação simetricamente oposta; agora a questão talvez se inverta: quem não existe são eles, a maioria de todos os europeusNo dia em que aterrissar em Sófia, Campos se o primeiro astronauta realmente lunático a chegar finalmente na Lua e embaralhar sua geografia. 
Como narra um tal bulgarósofo em “Fui à Bulgária”: “Pouco importava a Campos de Carvalho que o tal púcaro búlgaro pudesse ser um monstro aos olhos dos chamados lógicos: sem Bulgária alguma para procurar, talvez a vida lhe escorresse tal chuva em capa escorregadia, sem ensopar e encharcar suas ideias e suas imagens. Para navegar um país tão escorregadio eria preciso muito mais do que uma capa de chuva.” Campos estava certo. Segundo ele, qualquer possível solução sobre a existência da Bulgária deveria chegar a um termo até o início do século XXI, época em que certamente o mundo não faria mais sentido; não para a maioria das pessoas do século passado. No entanto, não é que agora a realidade tenha ultrapassado a ficção: ambas, real e ficção, sempre foram vasos comunicantes com asas parecidas com as do tal púcaro búlgaro. O Oriente talvez seja uma ilusão de perspectiva; tendo a outra parte do mundo como ponto de referência, os orientais seríamos nós. Mas como somos guiados por mapas em que a Europa gravita no centro do mundo, então os orientais são os outros. Nós, os bulgarólogos, talvez sejamos desorientais, mas desorientados jamais.
Estamos ainda no presente do presente a caminho de um descobrimento em carne viva ou, ao menos no sentido filosófico do termo, algo assim como desbravadores de pensamentos que não precisem mais sair de suas camas para reescreverem a História com H a partir de estórias e histórias com “h” minúsculo. Continua sendo deixado em aberto a possibilidade de nenhum GPS ou mapa conseguir localizar a Bulgária verdadeira. Tal território tem nos reiteradamente comprovado, ao longo do tempo, que a melhor forma de aproximação, em se tratando do caso búlgaro, é pela Busca. A Bulgária de Campos de Carvalho é uma terra de insones, lugar sem beira ou borda e que se recusa a caber dentro de um só espelho. Por carregar uma geografia tão distante e com tantas realidades latentes, a Bulgária de Augusto também pode ser entrevista em um país a brilhar na infância da linguagem, como um descobrimento tão mais estranho, quanto real. Na realidade, toda navegação nasce de um sobressalto: a falta de bordas e margens por onde se ancorar só comprova que nada pode ser estático no mar. Por isso, para além de qualquer pretensa leveza, uma narrativa de viagem deve lidar, logo de saída, com tal vertigem intrínseca que a ciência oficial cheirando a naftalina está cansada de conhecer. O mais importante a saber parece ser que: tudo que podemos nomear já não pode nos ferir, não como antes. 
Nascido no século XVIII e vivente do XIX, Xavier de Maistre foi o primeiro Julio Verne ao avesso que, ao escrever Viagem ao redor do meu quarto e, sua continuação, Expedição noturna ao redor do meu quarto, tornou-se o primeiro lunático a descobrir um tipo de viagem intrínsecamente territorial/mental. Já no século XX, Campos adotou os ensinamentos de Maistre e compôs (em diálogo intertextual) O púcaro búlgaro, livro que redescobre os sentidos modernos do termo viagem, descoberta e deslocamento geográfico/mental. Por sua vez, em “Fui à Bulgária”, do século XXI, o que parece haver é uma conversa intermitente entre bulgarósofos e bulgarólogos discutindo sobre a inexistência da Bulgária e até do próprio ser humano como entendido pela lógica humanista e positivista. Os mapas prévios organizadores podem ficar bem pregados nas paredes descacadas. Quiçá, o novelo de um mundo pode ser desenrolado quando menos se esperar, É certo que uma Bulgária que não saiba articular o sonho e o possível não será jamais um país digno deste nome, ali onde todo fim seja também um ininterrupto recomeço. 
 Talvez as datas não contabilizem os dias, mas os escondam ainda mais. Sabemos que, por exemplo, os céus já não cabem nos planetários. Mas, tal qual a pálida conquista da Lua, tudo só fará sentido se for televisionado; sem câmera não haverá mito. Um homem está chegando à Lua, porém há mais de vinte séculos um poeta já sabia dos feitiços capazes de fazer a Lua descer até a Terra. Qual seria, no fundo, a diferença? Incansáveis buscadores continuam explorando árduos princípios rumo à alguma Bulgária nesse imenso jogo de xadrez a representar o universo manifestado. Inúmeros são os que ainda acreditam que um outro tipo de descoberta ainda virá, até mesmo que livros e livros tentem implementar algum tipo de tédio que reduza muitos mundos a meros espaços temporais. E não será com álgebra ou com Revolução Francesa que se resolverão os problemas do mundo. Procuremos não rotular Sófia ou a Bulgária como droga de farmacêutico. Procuremos pensar nas palavras como algo além do que meras moedas de troca. É chegada a hora das histórias que corrompem estruturas, mas também as erguem.
Na realidade, quem jamais se questionou sobre a própria existência terá a maior das dificuldades em conceber muitas ou, ao menos, uma Bulgária. Um dia nossa felicidade ainda há de ser mais cólera do que amor de beata. Quem sabe o maior sentido de uma ou de várias Bulgárias já não possa ser descoberto, já que os descobridores andam fora de moda, ma sim reinventados ou recriados: neste mundo conturbado de hoje, somente os que criam parecem encontrar algo. Por exemplo, cada fio do meu cabelo representa um tipo de verdade diferente. O umbigo do mundo; construção e acaso; construções em ruínas de construções. Talvez os búlgaros não falem os mitos, mas sejam os mitos que falem através deles. Muitos são os bulgarólogos que defendem que sempre quem viaja são os outros, e não aqueles que naufragam em navios, aviões ou automóveis; quem viaja realmente é quem fica. Por isso, os bulgarólogos viajantes costumam presentear os turistas que voltam de seus amargos deslocamentos geográficos. 
 Há algo de podre no reino da Dinamarca, mas ninguém jamais imaginou que a Dinamarca fosse tão grande. Fomos expulsos do centro do mundo e agora o procuramos em qualquer tipo de labirinto. Aqui as aspas entram novamente em um estado festivo de decomposição. Lembremos que o verdadeiro contemporâneo é sempre um tempo por vir. Nem o mais banal dos banais é tão ordinário quanto parece ser; às vezes, quanto mais banal, mais estranho. Bulgária: arquipélago errante, filha do quase acontecimento, espinha entalada na goela da História, flor ébria de peso, arqueologia de um presente mais que contemporâneo.