quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Gavião Kyikatejê

Saiu semana passada na mídia impressa a estória & história de 1 time indígena do Pará que é a primeira equipe/agremiação indígena a chegar à primeira divisão de um estadual no Brasil. Resolvi pesquisar elogo me lembrei do Guarani de Campinas que tem como índio 1 de seus mascotes e o Colo-Colo do Chile possui 1 cacique em seu escudo; também o nome Maracanã é indígena; o Washington Redskins de futebol americano também tem 1 cacique como símbolo em um país em que o lema já foi "índio bom é índio morto"; completam a lista da NFL o Atlanta Braves e o Cleveland Indians. Também existem os gaúchos Guarani de Bagé e o Aimoré de São Leopoldo. No entanto, tais referências indígenas esportivas são pouquíssimas para 1 continente que foi colonizado por europeus que dizimaram nossos habitantes ancestrais americanos. Mesmo assim, não deixa de ser interessante o caso ocorrido no Pará. O nome do time formado por uma tribo é Gavião Kyikatejê, agremiação responsável por 1 mar de lembranças sobre como os índios deveriam ter sido melhores integrados (ou no mínimo respeitados) pela sociedade brasileira. A empreitada no Pará surgiu em 2009 com o intuito, segundo Zeca Gavião (presidente), de promover ' inclusão pela prática do esporte, fazendo com que a tribo Kyikatejê – no distrito de Bom Jesus do Tocantins, distante cerca de 580 quilômetros de Belém – experimentasse o ludopédio bretão. O elenco da equipe é formado agora de só 4 jogadores de origens indígenas que jogam pintados e caracterizados, como o meio-campo Waitwai e o atacante artilheiro Aru que veste um cocar. Um zagueiro do time chamado Max Melo contou que foi integrado ao time aprendendo práticas indígenas com seus companheiros, como a caça. O clube Gavião Kyikatejê localiza-se na aldeia homônima, cujo nome significa "povo do rio acima". A denominação gavião vem das penas da ave usada em suas flechas. Em pleno século XXI, o clube propõe-se a propagar sua cultura. Bela história em um continente devastado. Na torcida do Gavião há uma incomum inversão estrutural em um esporte ainda machista como o futebol: são as torcedoras indígenas que gritam e entoam gritos enquanto os homens ficam mais contidos e mais tensos. Apenas 3 jogadores moram na aldeia perto de Marabá. Mas alguns até casaram com indígenas e já foram integrados à tribo.Se formos pensar também muitos nomes comuns em nossa cultura pertencem à tradição indígena, como: Anchieta, Cauã, Cauby, Iberê, Ubirajara, Moacir, Muricy, Peri, Raoni, Ubiratã. Aracy, Iara, Inaiá, Iracema, Ivair, Itaú, Jacira, Janaína, Jandira, Jandir, Juçara, Jurema, Maiara, Maíra, Moema, Tainá. Sobrenomes como: Bocaiúva, Capanema, Guará, Guaraná, Ipanema, Ipiranga, Jaguaribe, Jatobá, Juruna, Macunaíma (aquele que trabalha durante a noite), Maranhão, Murici, Oiticica, Paranaguá, Paraguaçú, Pirajá, Pirassununga, Pitanga, Raoni (grande guerreiro), Rudá (divindade do amor), Saraíba, Tabajara, Tapajós, Tupã (progenitor), Tupinambá, Ubiraci, Ubirajara (senhor da lança). Na cultura norte-americana também há resquícios como Dakota (nome de um estado estadounidense que significa "amigo" em cultura indígena). A fugitiva e solvente moral da história, aqui, no caso do Gavião Kyikatejê é que o projeto iniciou-se como um meio de integração dos índios à sociedade "civilizada" dos brasileiros e, agora, com o sucesso esportivo, virou 1 meio de divulgação da cultura indígena futebolisticamente; ao menos é isso que pretende o presidente indígena do clube chamado Zeca Gavião. It's wait and see. Aqui informações para antropólogos e afins: os Kyikatejê-gavião são 1 povo indígena do grupo Gavião do Oeste cuja língua é o timbira oriental da família Jê. Também são conhecidos como "Koykateyê" e "Gavião Kyikatejê".Em 2010 perfaziam aproximadamente 320 índios que viviam na terra indígena Mãe Maria. Uma de suas maiores tradições é a corrida de toras: as equipes de revezamento (formada somente por homens), carregam troncos de buriti nos ombros. O mais importante não é quem chega primeiro, o que vale mais é o divertimento. A comemoração é maior quando as equipes chegam juntas ou quase juntas. Em 2013 ocorreu a proposta governamental de criação de 1 seleção indígena nacional. Acho 1 pouco ufanista, mas pode ter efeitos midiáticos da causa e certamente o artilheiro Aru do Gavião Kyikatejê seria nossa maior estrela...Vale a pena observar os métodos pouco ortodoxos de preparação na tribo da equipe: corrida com toras por quilômetros de distância e a caçada ajudam a criar resistência nos jogadores. Para aprimorar os reflexos um membro da comissão é equipado com arco e flecha. O técnico atira as flechas e, meio no susto e reflexo, os jogadores têm de desviar. Na ponta da flecha amarra-se a imbira para diminuir a contundência. Este é um excelente preparo de goleiros. Se algum jogador conseguir desviar das 5 flechas assume o lugar de quem estava atirando. O segredo aí é ficar de lado para tentar desviar e ter velocidade o suficiente, garante Zeca Gavião. Isto sim é pré-temporada! Não sou antropólogo radical ao ponto de pensar que índio modernizado jogando futebol não é mais índio; a cultura, a meu ver, pode ser mantida contanto que constantemente realimentada. Somente a vestimenta não garante o ritual. É preciso ter um élan vital, um mana, algo encarnado.






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