segunda-feira, 17 de outubro de 2011

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Não tinha túnel. O lado de dentro refletia o lado de fora. Nadando assim na piscina desses olhos verdes (alguém esperava o tiroteio passar).
Delírios oceânicos germinavam dos teus óculos:
pequenas máquinas de enxergar.
Livros brotavam do seu peito. Sim, a cidade era dos arranha-céus
Sim, mas a felicidade não podia ser medida como uma mera
expectativa de pavimentação e argamassa.
Em cada edifício alguém enlouquecia e tentava arranhar o céu.
A cidade era daqueles que arranhavam os céus para depois
incendiar a própria noção de céu,
como os que arrancam as luas de isopor e depois desfolham
os calendários,
como os vulcões presos dentro das lombadas dos dicionários,
como os encaixes que se desencaixam e permanecem belíssimos;
Os incêndios nunca correspondem às destruições
Sim, a cidade era dos arranha-céus, daqueles que cravavam suas garras
e depois bebiam tranquilamente
seus refrigerantes de petróleo.
Sim, mas mesmo assim flutuavam os pássaros de Hitchcock
Mesmo assim os planetas entravam em fusão
Mesmo assim sobrenadavam os corvos de Allan Poe
Mesmo assim as bibliotecas brotavam das árvores
Sim, a cidade era a cidade dos inocentes, daqueles que queriam as profundezas sem imersão,
daqueles que dançavam sem êxtases ou possessões,
dos iluminados no céu escuro
Sim, sim, a cidade pertencia àqueles que fotografavam tudo,
daqueles que sabiam que o susto era a alma do negócio.
Dos que arranhavam os céus com as unhas e depois saiam
distraídos para caminhar....
Sim, sim, sim, mas mesmo assim permaneceriam os venenos de veludo,
de beijos sem nomes, amores sem sobrenomes,
agendas sem datas, luas sem GPS, os olhos espirrando mel
sobre os mortos
da noite anterior.
Mas mesmo assim nos permaneciam as asas crescendo durante a noite,
enquanto os inocentes dormiam;
asas que iam inflando como giletes que escorregavam de dentro de nossas peles até incharem tanto
que logo arrebentavam
de manhã e nos deixavam aqui mesmo tontos,
caídos e atordoados
no continente do chão.
Nascíamos, também.

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