Não, talvez o tempo não passe mesmo da palavra tempo
adormecida numa lâmina desmedida
de carnes indizíveis
Branca fosse a página, mais agudo seria o dia,
mais lenta seria a paisagem,
mais amargo seria amar
Aqui as flores são de sangue,
blood flowers,
desconfie das flores
Amantes carregam ímãs voltados para o acaso
dos desencontros, para que a rua noturna
se fixe na placa sensível do dia
Um astronauta advinha o vinho provindo da garganta
a anunciar a próxima primavera convulsa;
dois abismos fabulam entre si
Eva sem treva carrega o tédio dos astronautas em si,
traz a vertigem de um oceano em cada olhar
Seria tudo travessia?
Ainda que nossas peles não fossem exatamente
livros de viagem,
ainda assim,
o caroço morto de uma estrela
renascia e brilhava através da alegria
amarga de um sol
Éramos precários acidentes
Representávamos a menor palavra faiscando
na geometria do olho
Éramos ossos germinando ossos
Éramos sonhos em movimento
Carregávamos escombros de diamantes
Éramos bibliotecas de carne
["Bloodflowers" in: Máquina de fazer mar (7Letras, 2016); AGC]
Nenhum comentário:
Postar um comentário