A grande ilusão é a de que os prédios
dançam
para acompanhar os passos dos novos
amantes
Em ato, amantes modernos perdem seus nomes próprios e
habitam as últimas claridades do fogo
Em ato de amantes, a íris do dia muda
de cor,
novos arranjos são formados por mares
lunares
– escuras planícies de magmas
solidificados
Com seus peitos de sol denso eles conquistam, por
instantes,
os espaços por onde escapariam os voos dos pássaros
e as formas transitórias das flores
Dos naufrágios de amantes recentes é
que surgem
as imagens feitas pelas sombras singulares
dos obscuros contornos das coisas:
as imagens feitas pelas sombras singulares
dos obscuros contornos das coisas:
trajetos entre bordas, pontes entre
quedas, asas sobre asas
A grande ilusão é a de que os dias
não oxidam os jardins e não corroem
os pomares
Flutuam significados e oscilam
significantes,
verbos levitam enquanto palavras são
suspensas pelo ar
Universos são desconcertados e
recompostos por
travessias de plumas novas
E a maré da vida a cobrir nosso
assombro
E o inconsciente marítimo a escorrer
sobre tudo
E o verdadeiro verão, quase sempre
glacial
E o mar uterino do Leblon a embalar
nossa embriaguez
AGC in: Máquina de fazer mar (2016, 7Letras)
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