Estados Unidos da Vertigem. Nostálgicos somos nós no meio de um cimento de transcendentes trânsitos. Ruínas e mares altos de areia faíscam nas tempestades; passos de surpresa no precipício da tela. A hot-colored concretism brilha pelos diamantes desafinados das unhas. Afogamos nossas sombras na grande América mãe 66. Seus deuses renascem um a um.
Só acreditamos nos homens que choram. Labirintos de anjos decaídos nos gritam no deserto de silk screens seus riffs de lamentações por beijos soprados. Jazzy crazy keys ecoam no meio-fio de nossas sedes. Ladrões noturnos de belezas procuram as novidades velhas nos jornais: love and theft, amor e roubo.
Essas as freeways siderais de que fala Jean Baudrillard. Esse o cogumelo de Buffalo reinventando o xamanismo: Bumba meu Bull. Esses os pré-modernos inventando o samba – o maneirismo pré-atômico de Tupac Shakur. A tropicália democrática de Cruz & Sousa e Padre Antônio Vieira.
Estrelas explodem pela boca, América. América, tudo porque ainda esperamos pelo dia em que seremos cósmicos. América, reunidos pela vertigem. Que Flash Gordon e Little Richard nos saúdem por sorrisos totêmicos rockin around the universe. Because we have visions instead of televisions.
As fronteiras não dizem tudo que poderiam dizer. Em Sunset Boulevard as línguas das telas de sangue projetam midwests de julgamentos: América e seus mitos em conserva. Compre sua hóstia descartável no hipermercado da cura e veja seus mitos decaindo um a um. Estados Unidos da Vertigem, seus deuses também morrem pelos sinais do corpo. Delicadezas flutuam, e por que não haveriam de flutuar?
Oh, diga, você vê na luz da aurora o que saudamos com orgulho no brilho do crepúsculo? / Esta é a bandeira estrelada! Que ela drapeje sobre a terra dos livres e dos homens valentes. / Conquistar é preciso, quando a causa é justa, e esse é nosso lema: Deus seja louvado! / A chama dos mísseis a brilhar, as bombas rompendo o ar, nos provaram, durante a noite, que nossa bandeira ainda estava lá.
(in: AMORAMÉRICA, OS SETE NOVOS, 2008)
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