Durante este período, talvez o que menos tenha chamado a atenção foram os momentos rasos de normalidade. Até o “renomado” jornalista Mário Sergio Conti aderiu à atmosfera abjeta da duplicidade do real. Ao entrevistar seriamente o sósia do técnico Scolari, Conti talvez tenha rompido com as margens que separam o real e seu duplo. Tal qual no filme fabular “F for Fake” narrado por Orson Welles, as fronteiras que demarcam o orginal e a cópia foram borradas e o que teria sobrado seria um quadro documental do caráter inapreensível do real. Curiosamente, o sósia de Scolari deu respostas mais sensatas e sóbrias do que o próprio. Será que se Conti encontrasse Inri Cristo com suas beatas diria que falou com Jesus ressurecto?
Outra cena interessantíssima foi a de uma cadeirante que voltou a andar em plena Arena Itaquerão durante jogo da seleção nacional. Isto sem falar nas defesas assombrosas do goleiros Howard, Ochoa e outros. Teve também o poste urinando no cachorro e a banana deglutindo o macaco com a surpreendente seleção da Costa Rica a matar o chamado “grupo da morte” entre Inglaterra, Itália e Uruguai.
Deveras lírico foi toda a metade desta lírica Copa supefaturada que teria custado a bagatela de R$ 28 bilhões de Surreais, sendo, assim, a Copa mais cara da História para uma FIFA que não pagará impostos. Tal qual um circo itinerante que leva sua tenda. Continuamos no plano mitológico dos discursos reais que tendem à ficção. Seguimos pelos traçados das verdades críticas, plásticas e permanentemente instáveis. Esperamos por mais inusitados lirismos de mulheres protegendo o baço para ir no FIFA FANfarronice FESTA, barrigas negativas das musas de plástico. Amor em tempos de cólera. Amor em tempos de Tinder. Explosões químicas a ocorrer por toda parte, por onde quer que novos corpos se entrelaçem.
Mas, e o que seria desta Copa sem a a mordida canibal vanguardista do
atacante uruguaio Luis Suárez? Inspirado em Hans Staden, Francis
Picabia, Lautréamont e Oswald, o centroavante já tem um histórico
eclético em dentadas em adversários: primeiro pelo mitológico Ajax
batavo, segundo pela Liga Inglesa por onde jogava Suárez até o momento
no beatlemaníaco esquete do Liver/pool. A terceira mordida do vampiro
uruguaio veio logo em plena Copa 2014, comprovando que o dianteiro é um
personagem reincidente em suas aventuras e, praticamente, um Nosferatu
pós-moderno. Em jogo apitado pelo Drácula, quem morde é o Suarez. No entanto, indiferente às metáforas do espetáculo, a FIFA
(bastião de um mundo politicamente correto) resolveu expulsar o
centroavante-sensação da Copa de 2014. Ainda assim, há uma festa em seu
cérebro. Luisito Suarez sabe que não há genialidade possível sem doses
de loucura; doses homeopáticas de loucura. Com diamantes em seus pés e
lobos em seus olhos, Luis Suarez é até agora a grande figura desta Copa
das Copas.
(To be continued)
[texto publicado inicialmente no site Ornitorrinco: ornitorrinco.net.br] http://www.ornitorrinco.net.br/2014/07/a-mais-ficcional-de-todas-as-copas.html
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