“A van guarda e leva o passageiro” (Bruna Beber)
Poetas
enclausurados em suas ilhas mandavam piscadelas para a crítica. Jornais tomavam
como dado uma suposta “geração OO” em poesia, como quem procurasse o que dois
zeros somados poderiam significar. Enquanto isso, em todo momento meu primo
dizia: “contar com a posteridade é como contar com a polícia.” Enquanto isso
não paravam de vir ao mundo os supermercados de antologias. Pavões se
pavoneavam pela chuva de outros cabelos. Alpinistas sociais se apressavam. A
realidade era patrocinada por deuses em pó. Do outro lado, nós nem notávamos toda essa
bradaria. As etiquetas já
não faziam sentido nenhum. Na aspereza de um móbile moldávamos a nossa sintaxe
de neons. No véu dos olhos, nos luminosos apagados, nas lágrimas de um ar
condicionado. Guardávamos tanta beleza dentro de nós que ainda tínhamos
combustível suficiente para no mínimo mais algumas inflamáveis eternidades.
Éramos astronautas percorrendo o meio-fio. A galáxia era só uma moldura.
Ipanema brilhava de noite. O céu invadia os planetários. Bandeira até dançava
um fox-trot.
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