sábado, 19 de dezembro de 2015

Os cães latem dentro do peito da cidade com a força de mil demônios rendidos. Objetos esquecidos de suas envelhecidas utilidades agora adquirem outras atividades insuspeitas, como a coagulação de uma pequena queda, como um estranho diamante extraído e reluzido do carvão da linguagem que, por estar preso por um fio, ali e finalmente ali, adquirisse liberdade e brilho próprio.
Os pássaros e as coisas sem asas se reconciliam para além de qualquer moldura. Outros países mais do que reais tremulam nos mapas para além dos territórios partidos e das estruturas retorcidas das ilusões geográficas. Suspensa, a cidade se equilibra em outra entropia, como um caos finalmente liberto de sua função mais ingênua.
Aviões sem asas despencam de um céu dos mais luminosos. Com todos seus cães latindo dentro do peito, o museu do mundo não mais poderia ser trancafiado em cofres, sótãos, porões ou mapas. O museu do mundo não mais caberia dentro das arestas do poema. Escandalosas paredes translucidas cobrem o dia e nossos sonhos são cobertos por armações de veludo vermelho ou,mais raramente, de veludo azul. 




mais raramente, de veludo azul.