Quando um deus morre, a multidão se pergunta:
para que medir a cidade com passos?
Os pés não têm memórias?
Distraidamente um homem sem sombras carrega
suas paisagens remendadas no bolso, as mastigará
nas primeiras horas de um janeiro qualquer
Homem atravessado por um céu sem nuvens,
levará na sacola toda uma coleção de paisagens subtraídas
Nenhum dia será belo como o sol que se apagará
nos horizontes dos aeroportos e em seguida virá se inflamar
na pista de pouso dos corredores e dos prédios
No dia em que o teto cair qual e tal a maçã de Newton,
aí sim brilharão com a maior das intensidades translúcidas
os corpos translúdicos e seus corações cicatrizados
Um dia, quando este homem estiver dourado de cansaço,
tomará tanto sol que ficará todo iluminado por dentro
e então verá o outro ocidente de haikais
que os barcos vêm trazendo
Aí, então, o balé improvável dos astronautas
será composto por formas habitáveis e
pelo sangue coagulado de continentes vicários
– o pós espanto da pós poesia do pós contemporâneo
E os deuses não mais se cansarão de escrever o real
O poeta não só enxerga, como vê a construção
junto de quem constrói, tudo na mais maré mais alta
de oceanos sem margens
Tudo pela clausura móvel da pele,
pelo reflexo de um âmbar, para que a paisagem escape
de sua própria escravidão
Pelo rigor na experimentação e pela experimentação no rigor;
construções em ruínas de construções
– like a slow burn
O chão sustenta o tapete, que fixa
a cadeira, que sustenta os pés
Os dicionários são incômodos,
os nomes provisórios
O voo de um pássaro não se prende a moldura alguma
_ quase nunca o calendário cardíaco corresponde ao calendário solar. o corpo é a medida da concretude das coisas, mas, por outro lado, é na mente que as ideias fluem; daí quem sabe, algumas ilusões geográficas _
É preciso nascer para provocar cortes nas escrituras do passado
Nascer junto com os mortos, escrever e ser escrito
Um dia, a localização poética ainda haverá de ampliar
a localização geográfica