segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Depois de meia-noite a América é Iracema de ressaca.Que Deus salve a América e a torta de maça. Dia e noite o Mc Donald’s hasteia sua bandeira norte-americana, contrariando as leis de seu país original que diz que somente nas instituições nacionais a bandeira estado-unidense pode tremular depois do pôr do sol. Mas talvez seja isso, talvez o Mc Donald’s esteja para muito além de qualquer pôr do sol. Talvez este seja o descontrole controlado de seu clown onipresente. Não é à toa que Ronald é fruto da televisão. A multidão solitária clama por esta intranquilidade instantânea. A ordem é que os clientes se emocionem antes de estacionar. Esta é a ciência do hambúrguer; procure pelos seus arcos dourados. Pense na América transmutada em Iracema. Depois de meia-noite a América é Iracema de ressaca.
Luzes e cores valorizam o espanto. A cidade agora é mero pano de fundo para este laboratório de metáforas visuais. Com seus sorrisos antissépticos os atendentes te oferecem simulacros de refrigerantes. Aquários humanos se transformam em grandes avenidas de brilho e de alegria. A fúria da máquina também é saber que também precisa reluzir a todo instante, como quem sempre tivesse que soltar espasmos pulsantes na obrigação de explodir seus pontos de exclamação por onde quer que se passe. Fundos luminosos defendem que o sucesso está no excesso. De que o ketchup utilizado pela empresa poderiam encher o lago Michigan, de que os bilhões de hambúrgueres vendidos poderiam cobrir por várias e várias vezes a distância da Terra à Lua. Este é o real sem avesso, de deriva em deriva; até os ossos. Para os americanos estar na imagem é existir. O país Marlboro está no ar.Depois de meia-noite a América é Iracema de ressaca. Que Deus salve a América e a torta de maça.



quinta-feira, 5 de novembro de 2015

THIS IS IT

Este é o Luto de um Maestro POP afogado em Morfina. O monstro expressionista FITZCARRALDO da ex-montanha sagrada de HOLLY WOOD...O Marketing-Epitáfio do andrógino das delicadezas forçadas. Máscara derretida pelos porões de chumbo dos anjos alienados na cidade transitória dos anjos terríveis. This is it.

O tédio é a doença mais moderna que há. Intensa como um véu vazante, anjo exterminador vazando milagres. Michael Jackson foi o último dândi da história, andrógino anjo exterminado pela multidão anônima, sangue pisado nos estilhaços da calçada da lama. Como um continente perdido na beira da casca de um ovo, M.J se auto-implode como um encenador de si próprio, this is it.

Se Oscar Wilde declarava que uma reforma na maneira de se vestir era muito mais importante do que a reforma da religião, o exibicionismo de Michael tinha um alvo certo: a dança. Nunca mais luvas de lantejoulas prateadas e casacos de remotas purpurinas douradas, nunca mais girassóis na lapela, nunca mais. Cidades são traçadas, mas os arquitetos regurgitam gotas de nuvem.

Michael, você se perdeu no deserto de fotos envelhecidas antes do tempo, só te resta agora esta saudade do futuro, this is it. Nada te salva te salvará dos estilhaços deste instantâneo instante, desta saudade de tudo que ainda se resta para viver. Heróis ainda apodrecem no vento de carne.

Pessoas abrem seus guarda-chuvas, mas a chuva não as guarda, o veneno que assalta é um mel vazando massacre , this is it. Os pés andam sozinhos. Agora já é tarde demais para se morrer.